Leandro Fortes em Carta Capital
Isolado dentro do Ministério da Defesa desde a chegada do ex-deputado petista José Genoíno, o ministro Nelson Jobim aproveitou um evento tucano – o aniversário de 80 anos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso – para destilar o fel do ressentimento. Após entoar o que ele mesmo classificou de “monólogo” pró-FHC, Jobim disse que faria um discurso “cheio de vazios”, mas que o amigo tucano iria entendê-los. Diante de uma platéia hostil ao governo, Jobim chegou a anunciar que estava no cargo, exclusivamente, por vontade de FHC. “Se estou aqui, foi por tua causa”, discursou o ministro, para espanto até dos tucanos presentes. Mesmo no evento, todos sabiam que Jobim foi para o cargo, e se mantém até hoje, por causa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
No tal discurso, Nelson Jobim sequer falou no nome da presidenta Dilma Rousseff, com quem mantém uma relação superficial e conflituosa, desde que foi obrigado a voltar atrás e apoiar o projeto de criação da Comissão da Verdade, que irá investigar os crimes cometidos durante a ditadura militar. Em 2009, Jobim chegou a anunciar que iria se demitir, junto com os comandantes militares, caso o texto da terceira edição do Plano Nacional de Direitos Humanos não fosse modificado. Para evitar a crise, Lula retirou do documento o termo “repressão política” para se referir à atuação dos quartéis na tortura, assassinato e desaparecimento forçado de presos políticos.
O motim contra o PNDH-3, contudo, foi a última performance de sucesso de Nelson Jobim, ministro civil afeito a usar uniformes militares quando está junto de generais. No governo Dilma, foi obrigado a engolir a nomeação de José Genoíno como “assessor especial” e perdeu quase todas as atribuições de relevância da pasta, inclusive o controle sobre as operações militares. No caso da Comissão da Verdade, acabou informalmente subordinado a Genoíno e à ministra Maria do Rosário, secretária nacional de Direitos Humanos.
Foi no rastro desses acontecimentos que Jobim se exasperou diante de FHC, de quem foi ministro da Justiça e a quem deve a indicação ao Supremo Tribunal Federal, onde esteve por dois anos. À vontade na festa tucana, o ministro fez coro às críticas da oposição e de parte da mídia ao estilo de Dilma. Como contraponto, rasgou seda para FHC. “Nunca o presidente (FHC) levantou a voz para ninguém. Nunca criou tensionamento entre aqueles que te assessoravam”. E foi além, ao insinuar que os governos Lula e Dilma demoliram o que ele chamou de “processo político de tolerância, compreensão e criação”, supostamente construído nos tempos do tucanato. “Precisamos ter presente, Fernando, que os tempos mudaram”, faltou a FHC.
O arremate final, quase um pedido público de demissão, foi uma citação do dramaturgo Nelson Rodrigues. “Ele dizia que, no seu tempo, os idiotas chegavam devagar e ficavam quietos. O que se percebe hoje, Fernando, é que os idiotas perderam a modéstia”, afirmou. “E nós temos de ter tolerância e compreensão também com os idiotas, que são exatamente aqueles que escrevem para o esquecimento”. Mais explícito, impossível.
Leandro Fortes
Leandro Fortes é jornalista, professor e escritor, autor dos livros Jornalismo Investigativo, Cayman: o dossiê do medo e Fragmentos da Grande Guerra, entre outros. Mantém um blog chamado Brasília eu Vi. http://brasiliaeuvi.wordpress.com
Isolado dentro do Ministério da Defesa desde a chegada do ex-deputado petista José Genoíno, o ministro Nelson Jobim aproveitou um evento tucano – o aniversário de 80 anos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso – para destilar o fel do ressentimento. Após entoar o que ele mesmo classificou de “monólogo” pró-FHC, Jobim disse que faria um discurso “cheio de vazios”, mas que o amigo tucano iria entendê-los. Diante de uma platéia hostil ao governo, Jobim chegou a anunciar que estava no cargo, exclusivamente, por vontade de FHC. “Se estou aqui, foi por tua causa”, discursou o ministro, para espanto até dos tucanos presentes. Mesmo no evento, todos sabiam que Jobim foi para o cargo, e se mantém até hoje, por causa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
No tal discurso, Nelson Jobim sequer falou no nome da presidenta Dilma Rousseff, com quem mantém uma relação superficial e conflituosa, desde que foi obrigado a voltar atrás e apoiar o projeto de criação da Comissão da Verdade, que irá investigar os crimes cometidos durante a ditadura militar. Em 2009, Jobim chegou a anunciar que iria se demitir, junto com os comandantes militares, caso o texto da terceira edição do Plano Nacional de Direitos Humanos não fosse modificado. Para evitar a crise, Lula retirou do documento o termo “repressão política” para se referir à atuação dos quartéis na tortura, assassinato e desaparecimento forçado de presos políticos.
O motim contra o PNDH-3, contudo, foi a última performance de sucesso de Nelson Jobim, ministro civil afeito a usar uniformes militares quando está junto de generais. No governo Dilma, foi obrigado a engolir a nomeação de José Genoíno como “assessor especial” e perdeu quase todas as atribuições de relevância da pasta, inclusive o controle sobre as operações militares. No caso da Comissão da Verdade, acabou informalmente subordinado a Genoíno e à ministra Maria do Rosário, secretária nacional de Direitos Humanos.
Foi no rastro desses acontecimentos que Jobim se exasperou diante de FHC, de quem foi ministro da Justiça e a quem deve a indicação ao Supremo Tribunal Federal, onde esteve por dois anos. À vontade na festa tucana, o ministro fez coro às críticas da oposição e de parte da mídia ao estilo de Dilma. Como contraponto, rasgou seda para FHC. “Nunca o presidente (FHC) levantou a voz para ninguém. Nunca criou tensionamento entre aqueles que te assessoravam”. E foi além, ao insinuar que os governos Lula e Dilma demoliram o que ele chamou de “processo político de tolerância, compreensão e criação”, supostamente construído nos tempos do tucanato. “Precisamos ter presente, Fernando, que os tempos mudaram”, faltou a FHC.
O arremate final, quase um pedido público de demissão, foi uma citação do dramaturgo Nelson Rodrigues. “Ele dizia que, no seu tempo, os idiotas chegavam devagar e ficavam quietos. O que se percebe hoje, Fernando, é que os idiotas perderam a modéstia”, afirmou. “E nós temos de ter tolerância e compreensão também com os idiotas, que são exatamente aqueles que escrevem para o esquecimento”. Mais explícito, impossível.
Leandro Fortes
Leandro Fortes é jornalista, professor e escritor, autor dos livros Jornalismo Investigativo, Cayman: o dossiê do medo e Fragmentos da Grande Guerra, entre outros. Mantém um blog chamado Brasília eu Vi. http://brasiliaeuvi.wordpress.com
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