09 janeiro 2011

Já é o começo do Golpe


Por Rui Martins - de Genebra

Se você faz parte dos 87% que apoiavam o governo Lula, fique alerta – no mais escondido covil de serpentes e escorpiões trama-se um golpe institucional contra o governo de Dilma, mesmo se esse governo começou com 62% de aprovação popular.

Desta vez, ao contrário do golpe de 1964 não se trama nos quartéis com o apoio declarado dos Estados Unidos. A trama é bem mais sutil – não se acena com a paranóia do perigo vermelho, mas com base em pretensos arrazoados jurídicos se quer desmoralizar e desautorizar o ex-presidente Lula e se colocar no ridículo a presidenta Dilma, que será destituída do poder de decisão.

O golpe não parece financiado só por dólares americanos, como no passado, mas igualmente por euros vindos da Itália. Aparentemente trata-se da extradição ou não extradição de um antigo militante italiano, Cesare Battisti, condenado num processo italiano fajuto à prisão perpétua, mas a verdade submersa do iceberg é bem outra.

Quem leu as revelações do Wikileaks quanto as opiniões dos EUA sobre Lula, considerado suspeito, e Celso Amorim, considerado antiamericano, e que acompanhou a campanha contra a eleição de Dilma, sabe muito bem haver interesses de grupos internacionais em provocar uma crise institucional no Brasil.

Será também a maneira de grupos econômicos estrangeiros impedirem a atual emergência do país como potência mundial. A Itália neofascista de Berlusconi com seu desejo de recuperar um antigo militante esquerdista é apenas uma providencial pretexto para os grupos políticos e econômicos internacionais incomodados com o Brasil líder do G-20 e vitorioso contra os EUA na OMC.

O que se quer agora, com o caso Battisti, é subverter as instituições brasileiras, mergulhar-se o país numa confusão entre o poder do Executivo e o poder do Judiciário, anular-se uma decisão do ex-presidente Lula para se abrir o caminho a que governança do Brasil seja sujeita à aprovação do STF. Para isso conta-se, como em 1964, com os vendilhões da nossa soberania e com os golpistas da grande imprensa.

Simples e prático, para se evitar que a presidente Dilma governe, vai se tentar lhe por um cabresto e toda decisão sua que desagrade grupos internacionais deverá ser anulada pelo STF. Por exemplo, a questão da exploração petrolífera do pré-sal poderá ser uma das próximas ações confiadas ao STF.

Se Dilma quiser renacionalizar as comunicações, já que a telefonia é questão estratégica, o STF poderá dizer Não e também optar pela privatização da Petrobras. Delírio ? Não, os neoliberais inimigos de Lula e da política nacionalista, derrotados nas eleições, poderão subrepticiamente retirar, pouco a pouco, os poderes da presidenta e do Legislativo, para que fique apenas com o STF o governo ou o desgoverno do Brasil.

O próprio advogado de Cesare Battisti, acostumado com leis e recursos, nunca viu uma decisão presidencial ser posta em dúvida por um ministro do STF, e por isso falou em « golpe » tal como havíamos alertado.

Por sua vez, o atual governador do Rio Grande do Sul, que aceitou o pedido de refúgio de Battisti quando ministro da Justiça, não aguentou a decisão do ministro Cezar Peluso do STF de colocar em, questão a validade da decisão do presidente Lula e declarou como « ilegal » e « ditatorial » o ato do ministro Peluso, do qual decorre um « prejuízo institucional grave » para o país e um « abalo à soberania nacional ».

Faz dois anos, Tarso Genro concedeu refúgio a Battisti, que deveria estar em liberdade desde essa época. Mas o ato liberatório foi sustado pelo ministro Gilmar Mendes, que submeteu a questão ao STF, o que já consistia um ato arbitrario. Embora os ministros tenham decidido por 5 a 4 pela extradição, competia ao presidente a decisão final, o que foi reconhecido, depois de uma tentativa de reabertura do julgamento.

O presidente Lula justificando seu ato, dentro do permitido pelo Tratado mútuo de Extradição entre Brasil e Itália, com base num documento da Advocacía Geral da União, negou a extradição e a própria Itália entendeu o ato como definitivo. Ora, a decisão do ministro Cezar Peluso de pôr em dúvida a decisão do presidente Lula e reabrir a questão vai além de sua competência e fere uma decisão soberana.

É tentativa ou já é golpe, no entender do advogado Luiz Roberto Barroso, é ilegal e ditatorial segundo o ex-ministro da Justiça Tarso Genro, opiniões que vão no mesmo sentido de Dalmo Dallari e de outros juristas.

O que iremos viver, quando o ministro Gilmar Mendes se dignar a colocar na agenda do STF o « julgamento da decisão do presidente Lula », se a maioria, por um voto que seja, decidir anular a decisão de Lula ? Será que a presidenta Dilma aceitará essa intromissão do STF no poder do Executivo ? Em todo caso, será o caos.

É hora de reagir, antes que seja tarde demais.

(Publicado originalmente no Direto da Redação)

Rui Martins, jornalista, escritor e advogado, correspondente do Correio do Brasil em Genebra.

3 comentários:

jozahfa disse...

Paranoia.

Anônimo disse...

Paranóia nada! Há muito tempo que aquele reduto de "homens (e mulheres) de preto" vem querendo mandar mais que o executivo e o legislativo juntos. E sem serem eleitos!!!
Muito cuidado!
Raul.

Anônimo disse...

Eleitor inocente

"Não pode ganhar, se ganhar não toma posse e se tomar posse não vai governar".

Esse pensamento golpista do finado Carlos Lacerda (UDN-RJ), continua guardado e acalentado pelos golpistas da atualidade, mas que já não se atrevem a divulgá-lo aos gritos como faziam antigamente.

Agora fazem o mesmo, mas aos cochichos e com manobras subterrâneas, ariscando aqui e alí um eventual sucesso, num trabalho de sabotagem permanente com avanços e recuos. Isto existe e vai continuar, ou seja, a luta continua... Mas, vamos aos fatos:

1 - Dilma Rousseff foi eleita, depois diplomada pelo TSE.

2 - A presidenta, antes de tomar posse, escolheu os seus ministros, com mais facilidade do que os presidentes antecessores. Esta sempre foi uma tarefa muito difícil, tudo feito sem crise, quem falou em crise foi o PIG.

3 - Foi empossada legalmente, solenemente, e com grande festa popular.

4 - Governa, com apenas nove dias decorridos e ainda em fase de montagem do governo, pois falta nomear o segundo escalão. Mas, ela disse que vai aguardar a posse dos novos deputados e senadores e a eleição dos presidentes das duas casas do Congreso, para anunciar o segundo escalão.

Portanto, a presidenta trabalha sem nada grave. Na agenda internacional, segundo foi divulgado, a Argentina foi o primeiro país escolhido para ser visitado, depois vai ao Uruguai e Perú. Uma escolha correta e de grande significado na política internacional.

Finalmente, quanto ao Supremo (STF) continua amestrado, desgastado, esperneando e se lambuzando, infelizmente. Conforme foi dito antes, vontade nunca ali faltou, mas situado na outra margem precisa atravessar o rio, que nesse tempo de muitas chuvas fica transbordante. E ainda falta chegar as famosas águas de março ...!!

Chico Barauna
09-01-2011.