27 maio 2008

Discurso do Presidente Lula em Contagem



Primeiro quero dizer a todos vocês, da alegria de estar aqui na GE hoje, na cidade de Contagem, no nosso querido estado de Minas Gerais.

Quero cumprimentar o nosso querido companheiro, governador do estado Aécio Neves e cumprimentando o Aécio, quero cumprimentar todos os companheiros e companheiras que estão aqui na mesa, porque eu quero falar um pouco do significado do dia de hoje.

Primeiro, Aécio, você e a Marília, é importante que a Cláudia Goulart, que não trata de locomotiva, mas trata da saúde de quem trabalha com a locomotiva – aquela moça bonita de vermelho – já assinou, parece, um contrato para ser feito aqui em Contagem. Então, parabéns à GE Saúde, que como mineira, silenciosamente estava trabalhando, Aécio, enquanto você e Miguel Jorge falavam.

Eu quero dizer aos empresários aqui presentes, aos representantes das empresas brasileiras e aos trabalhadores, uma coisa importante que está acontecendo no Brasil. Ontem, eu fui ao Rio de Janeiro, participar de um evento da Petrobras e da indústria naval brasileira. Nós assinamos um acordo para a construção de mais 42 navios construídos por estaleiros brasileiros. E até 2014, nós teremos que produzir mais 200 navios no Brasil. Navios grandes, navios médios e navios de apoio para a atividade da Petrobras, sobretudo, depois da camada pré-sal, que nós esperamos que tenha mais petróleo do que o mais otimista dos brasileiros acredite. E lá, ouvindo os discursos, tanto dos trabalhadores quanto dos empresários, me chamou a atenção para o momento em que este País teve um homem que pensou grande, que foi o nosso saudoso mineiro Juscelino Kubitschek, com o seu Plano de Metas para o Brasil.

Ali ele pensou uma marinha mercante forte, ali ele pensou uma indústria naval forte, ali ele pensou uma rede de ferrovias muito forte. Pensou também em rodovias, porque no Brasil, o grande problema que a gente tem, é que de vez em quando, para criar uma coisa, a gente quer anular outra, quando na verdade seria a gente tentar, sempre, combinar as duas porque se nós conseguimos combinar um sistema perfeito intermodal de transporte, seria a solução para todos nós, aproveitando o potencial de hidrovias que temos, aproveitando a costa marítima que temos, aproveitando as rodovias que temos e as ferrovias que nós precisamos fazer, novas, e as que precisamos recuperar.

Eles me diziam que a indústria naval brasileira, na década de 70, só perdia para a indústria naval do Japão. Era a segunda maior indústria naval do mundo. Trinta anos depois, uma indústria naval que chegou na década de 70 a ter 36 mil trabalhadores, tinha apenas 1.900 trabalhadores, não construía mais nenhum navio, apenas fazia conserto em alguns navios. Nós entendíamos que era possível recuperar a indústria naval brasileira. Fizemos um desafio aos empresários da indústria naval, fizemos um desafio à indústria de base brasileira, fizemos um desafio ao BNDES e ao próprio companheiro nosso, o ministro da Fazenda, para que a gente fizesse funcionar o Fundo da Marinha Mercante, que foi criado pelo Juscelino Kubitschek e passados apenas quatro anos e meio, a indústria naval brasileira já tem hoje, 40 mil trabalhadores com carteira assinada, construindo navios e barcos por este País afora.

Só para a gente ter idéia do que vai acontecer no Brasil, além dos navios, a Petrobras precisa contratar, quase com uma certa rapidez, 26 sondas. Além das sondas, contratar mais plataformas. Nós estamos trabalhando, primeiro, para atender à demanda da Petrobras, para garantir que essa demanda permita que a gente reconstrua a nossa indústria naval, e que a gente possa ter engenharia para produzir aqui, com componentes nacionais, grande parte de tudo o que vamos precisar para extrair a quantidade enorme de petróleo que temos na camada pré-sal.

Falando nos navios, eu me lembro das ferrovias. Eu me lembro que em 2004, se não me falha a memória, fui à cidade de Osasco inaugurar a nova fábrica de vagões, onde era a antiga Cobrasma. Todo mundo se lembra que a Federação das Indústrias de São Paulo teve um presidente chamado Luiz Eulálio Bueno Vidigal, que era dono da Cobrasma, onde houve a famosa greve de 1968, com o líder sindical José Ibrahim, e logo depois a grande greve de Contagem, também em 1968.

Nós tínhamos parado de produzir trilhos no Brasil, nós tínhamos parado de produzir vagões. O Ivoncy Ioschpe disse que a encomenda que tinha tido, no ano anterior, era de apenas 200 vagões. Eu fui inaugurar a nova Cobrasma, produzindo então vagões e rodas para trens, e lá tive a oportunidade de conhecer um metalúrgico que, em 1968, apertou a campainha da Cobrasma, que era a senha para os trabalhadores entrarem em greve. Ele foi preso logo em seguida, mas apertou a campainha. E esse trabalhador, emocionado, com lágrimas nos olhos, dizia para mim que ele não imaginava que fosse viver para ver o Brasil produzir novos vagões, novas rodas para trens, novos trilhos e, muito menos, novas locomotivas.

Hoje, a indústria brasileira... Por isso, o meu agradecimento à direção da GE, que acreditou numa conversa que tivemos em meu gabinete, de que podiam apostar na construção de locomotivas aqui no Brasil, porque nós iríamos recuperar as ferrovias brasileiras, iríamos construir as parcerias que faltavam ser feitas no Brasil e, ao mesmo tempo, iríamos fazer as ferrovias novas que precisam ser feitas.

O Brasil, nos próximos anos, se transformará num grande exportador mundial. E nós sabemos que para ser um grande exportador, precisamos ter meios de transporte ágeis e baratos. Noventa e cinco por cento do transporte brasileiro que vai para o exterior, vai de navio. Portanto, temos que fazer as nossas ferrovias chegarem até os principais portos brasileiros, e construir os portos que ainda precisamos construir. Obviamente que a gente não vai querer construir nada novo enquanto não fizer funcionar as coisas que já existem e que não estão funcionando adequadamente. Por isso, estamos no processo de dragagem dos 17 principais portos brasileiros; por isso, tomamos a decisão de construir a Ferrovia Transnordestina, que é uma ferrovia de quase mil e 700 quilômetros. Muita gente dizia: “Ela não é economicamente viável”, e o Estado brasileiro, de vez em quando, precisa convencer os empresários de que a construção dessa obra a transformará em uma obra economicamente viável. Esperar ter o dinheiro primeiro para começar a construir a ferrovia, não daria certo. Vamos fazer a ligação com as regiões que produzem soja no País, vamos tentar ligar a região que produz muito gesso no País, e vamos transformar essa Ferrovia que está desmontada há mais de 30 anos, em uma ferrovia para ligar dois portos importantes, Suape e Pecém, passando em Alagoas e passando em Eliseu Martins, no estado do Piauí.

Quando nós chegamos, eu fui inaugurar um trecho da ferrovia, Alfredo, me corrija aqui, da Ferronorte se não me falha a memória naquela época, em que nós formos lá perto de Rondonópolis e a rodovia estava pronta, vai até Santos, mas faltavam 280 quilômetros para chegar a Rondonópolis, que é um grande centro produtor deste País. Eu lembro que na viagem de 100 quilômetros, que eu fiz de trem, os empresários me prometeram: “nós vamos fazer, vamos fazer”. Mas na verdade, os empresários não se entendiam entre eles porque tinham ferrovias diferenciadas e estavam brigando entre si. Eu sei que, somente no ano passado é que nós conseguimos convencer – hoje parece que a LS – de que aquele trecho é extremamente importante ser feito e agora o ministro dos Transportes me comunicou que já tem os contratos assinados, não sei se vai entrar em licitação, já vai começar a obra, para que a gente possa, dar ao Brasil, a oportunidade de escoar a sua produção com a facilidade de um país, que quer se transformar em uma grande nação, precisa ter.

E quando eu venho aqui hoje, inaugurar essa locomotiva, quem não entrou, se entrar vai pensar que está na cabine de um avião, tal é a modernização dentro da cabine daquela locomotiva. E quando a gente sabe que ela pode substituir algumas dezenas e dezenas de carretas que passam pelas estradas brasileiras, nós também queremos afirmar que não queremos tirar as carretas das estradas brasileiras, porque queremos dar empregos para os motoristas, mas o motorista de caminhão não pode transportar uma carga por 2 ou 3 mil quilômetros. Carga tem que ser transportada de caminhão por 200 ou 300 quilômetros no máximo. Nós temos que construir e aprender a conviver com terminais que possam fazer com que os caminhões sejam apenas os entregadores em curtas distâncias e que os trens, as hidrovias e o transporte marítimo se encarreguem de fazer o restante do transporte neste País.

A GE, eu diria, quase dá um presente ao Brasil, a Minas Gerais, a Contagem, mas me dá um presente, porque nessas conversas que a gente tem com empresários e os empresários têm com a gente, nem sempre a gente acredita no empresário e nem sempre o empresário acredita na gente e me parece que nessa coisa, pintou uma química de otimismo neste País, porque em um tempo muito menor do que a gente esperava, eu fui convidado a vir aqui com o governador para inaugurar essa primeira locomotiva. Eu poderia agora, dizer aos companheiros da direção da GE e aos trabalhadores: estejam certos de que não tem retorno para o Brasil. Eu não vou dizer de forma brusca e grosseira: agora vai ou racha. Eu não vou dizer porque eu não quero que rache, eu quero que vá.

Mas a verdade é que o povo brasileiro encontrou um jeito de fazer com que as coisas dessem certo neste País. O País encontrou um jeito de fazer com que as pessoas confiem nas conversas que tenham com os governantes, com os políticos e com os empresários brasileiros. E quero dizer mais para a GE. Não é apenas o mercado brasileiro, é o mercado da América do Sul, é o mercado da América Latina e é o mercado africano, que pouca gente presta atenção. Países como Angola estão crescendo a 19% ao ano e se o Brasil não tomar cuidado e fizer as parcerias que precisa fazer na África, podem ficar certos, que já tem gente fazendo. Os chineses estão lá, investindo em ferrovia, investindo em hidrovia, investindo, sobretudo, na busca de minérios de tudo que possa ter embaixo da terra e o Brasil não pode ficar parado, esperando ver as coisas acontecerem no continente africano, sem a nossa participação.

Portanto, eu acho que a GE – e queria que vocês marcassem o dia de hoje – marcou um gol extraordinário, acreditando no potencial ferroviário brasileiro. Podem ter certeza de que eu pretendo viver ainda uns 30 anos, se Deus for condescendente comigo, e nós nos encontraremos daqui a uns 10 anos para ver o que aconteceu nesta fábrica da GE em Contagem, e o que aconteceu no sistema ferroviário brasileiro.
No mais, quero parabenizar a nossa Marília, que veio aqui, humildemente, falou seus dois minutinhos, sai daqui sem pedir nada, e ganha de presente uma fábrica de alto valor agregado, uma fábrica de tomógrafo. Eu acho que Contagem ganha mais um grau de confiança. É importante, Aécio, saber porque a GE está acreditando muito em mim. Você percebeu que a Diretoria é quase toda mineira.

Da nossa parte, Governador, Prefeita e empresários diretores da GE, queremos dizer a vocês que estamos dispostos, junto com a Prefeita e com o Governador, a fazer o que pudermos para que isso aqui se transforme também num grande centro de engenharia, e que a gente possa exportar não apenas as locomotivas, mas a inteligência do povo brasileiro em forma de produtos com muito valor agregado.

Parabéns aos trabalhadores da GE, parabéns ao povo de Contagem, parabéns ao povo de Minas Gerais e parabéns à Direção da GE.

Um abraço e boa sorte no Brasil.

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