14 março 2012

Lições do tsunami financeiro

Pedro Chadarevian - Opera Mundi

Dilma está certa: excesso de liquidez não salvará economia; como ensinou Keynes, a saída é fiscal

É precisa a avaliação econômica da presidente Dilma Rousseff a respeito dos equívocos na estratégia de saída da crise global por parte dos países avançados. Não há de fato nenhuma garantia que inundar o sistema financeiro de dinheiro trará a economia de volta ao crescimento. Como mostrou Lord Keynes tempos atrás, quando a taxa de juros é muito reduzida os instrumentos de política monetária se tornam irrelevantes. É a situação que ele batizou de armadilha da liquidez.

Nestes casos, aumentar a massa monetária à disposição dos agentes econômicos de nada adianta. Bancos não emprestam, e famílias e empresas, afetados pela recessão, não conseguem acesso ao crédito barato. Na prática, as instituições financeiras “sentam-se em cima” do dinheiro, aguardando uma melhoria no cenário econômico – e, obviamente, uma remuneração melhor para o seu capital, já que a expectativa, com juro quase zero e até negativo em alguns destes países, é que ele suba em algum momento. É o fenômeno do entesouramento, quando a riqueza fica represada em mãos de rentistas, sem um uso produtivo capaz de gerar emprego e renda. O que fazer em casos de impasse como este?

A experiência nos ensina que a saída não é pelo lado monetário, e sim pelo lado fiscal, ou seja, por meio do aumento dos gastos e investimentos do governo. O que tem a sua lógica. Na depressão dos anos 1930, Roosevelt seguiu à risca estas premissas no New Deal. Chegou-se inclusive ao ponto de incentivar a economia contratando empregados para cavar buracos nas estradas e em seguida tapá-los. O sentido desta atitude é injetar recursos diretamente para as famílias. Agora com dinheiro no bolso, voltam a consumir. Reativam-se assim os circuitos monetários, pois as empresas tomam emprestado para investir em vista do cenário macroeconômico positivo.

Estas idéias, ainda que inspirem alguns países emergentes, entre eles o Brasil, estão, no entanto, muito distantes de determinar o debate nos países mais avançados. Talvez porque elas contenham um fundamento de radicalismo que incomode os donos do poder, ao colocar a justiça social como meta central das políticas econômicas e revelar o comportamento parasita dos rentistas. Só nos resta então esperar que se os países que lideram a reação conservadora à demanda de transformações estruturais na economia global se afoguem em seu próprio tsunami financeiro.

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