O observador desprevenido do caótico panorama mundial e das incertezas que este introduziu no que ele supunha ser a "ciência econômica" tem a tendência de fazer desta tábula rasa e procurar a salvação no pragmatismo irresponsável.
A crise que estamos vivendo não é uma daquelas ínsitas no particular sistema de economia de mercado, cujo codinome de guerra é "capitalismo". Foi produzida por uma avalanche do pensamento único, cujo codinome de guerra é "neoliberalismo", apoiado por Estados corrompidos pelo sistema financeiro internacional.
p>Quebrou-se, assim, o importante equilíbrio entre a urna e o mercado, que conduz, não linearmente, ao aperfeiçoamento civilizatório da "economia de mercado" -processo este que se renova e se civiliza um pouco mais a cada crise.
A economia tem a seu favor o fato de que muitas das suas "escolas" nunca aceitaram a hipótese dos mercados "perfeitos e capazes de se autorregularem", hipótese esta que produziu a tragédia em que vivemos. E mais. Um punhado de economistas antecipou e chamou a atenção para o que se armava em nome das "inovações financeiras" que iriam "facilitar o desenvolvimento e diminuir os custos de transação".
É hora, portanto, de reafirmar que existem mesmo princípios econômicos e realidades insuperáveis. Por exemplo, que há uma troca permanente e incontornável entre o consumo maior e o investimento menor no presente em contraposição a um consumo menor e a um emprego menor no futuro. Ou que é uma grande tolice tentar violar as identidades da contabilidade nacional.
É preciso reconhecer que não há um modelo de equilíbrio geral do qual se possam extrair recomendações normativas que permitam classificar, "a priori", como prejudicial ao desenvolvimento econômico qualquer política governamental.
É evidente, por outro lado, que não há nenhuma razão para supor que o Estado tenha sempre -e necessariamente- um conhecimento superior da realidade e, logo, que seja dotado da "onisciência" que recomenda sua "onipotência" e "onipresença" na economia.
Porém, quando se trata de política de desenvolvimento industrial, o Estado pode "contabilizar" melhor os efeitos diretos e indiretos de suas compras.
Ele pode "ver" (porque teoricamente pode agregá-los) os resultados sociais de uma produção industrial que o setor privado não pode internalizar em seus preços, mas a sociedade recebe como aumento de renda.
Não há nada de errado, "em princípio" e "a priori", contra o benefício ao produtor, desde que seja compensado -no custo das empresas compradoras- com créditos do Tesouro gerados pela alta da receita criada pelo valor adicionado da produção interna.
Nenhum comentário:
Postar um comentário