03 outubro 2011

Porque o PSD não quer Serra



Luis Nassif

Há uma lista infindável de fatores que desaconselham o PSD a receber José Serra

O primeiro, é que Serra não tem nada a oferecer.

Certa vez, nos anos 80, Guilherme Afif Domingos – um dos melhores quadros políticos da direita – me esclareceu a respeito da capacidade de Paulo Maluf em arregimentar seguidores: "Ele tem credibilidade no mercado político futuro", disse ele. A credibilidade decorria de dois fatores: tinha potencial político e cumpria a palavra empenhada.

Serra não tem mais futuro político nem se distingue pela lealdade partidária e pessoal. Na verdade, é um ególatra altamente desagregador – conforme o PSDB está testemunhando.

O segundo fator é a falta de discurso político.

Um partido vive de bandeiras. Desde início dos anos 90 Serra é um vazio cercado de ghost writers – que já debandaram. Não tem noção mínima sobre nenhum dos temas portadores de futuro: gestão, inovação, educação, desenvolvimentismo. Sua retórica atual consiste em analisar qualquer ato de governo e apontar o que a medida não contempla - recurso de um primarismo intelectual clamoroso -, com uma superficialidade tal que é incapaz de entender as contraindicações das medidas que abraça por efeito-oposição.

Hoje em dia, a imagem de Serra está indissoluvelmente ligada ao obscurantismo religioso, à intolerância, à dissimulação, tudo o que o PSD quer esconjurar para se firmar como um centro-direita civilizado.

O terceiro fator é a incapacidade de agregar mais quadros técnicos ao partido

Kassab já tem o que queria, os quadros tucanos que Serra legou quando deixou a prefeitura. E que continuarão com ele simplesmente porque Serra não lhes oferece mais nenhuma perspectiva política.

Por outro lado, o que menos Kassab deseja é a volta dos quadro barras-pesadas que fazem parte do círculo íntimo de Serra – como Andrea Matarazzo e a ex-vereadora Soninha Francine. Nos tempos em que assumiu a subprefeitura da Lapa, Soninha tinha o hábito de desfeitear Kassab na frente de outros subprefeitos, para mostrar que estava acima dele e do lado direito de Deus Pai – Serra. O mesmo comportamento, aliás, de Andréa.

Além disso, quando a campanha eleitoral desnudou o político infame que era, Serra perdeu também qualquer capacidade de aglutinar pensadores social-democratas ligados à Universidade, sem nunca ter conseguido convencer os pensadores mais conservadores.

As ligações com Serra tornaram-se tão comprometedoras que o próprio FHC teve que se afastar dos seus maus fluidos, para não afetar definitivamente sua imagem.

O quinto fator é que a influência de Serra sobre a velha mídia é declinante. Ele nada mais tem a oferecer além de dossiês sobre adversários, esquemas de espionagem e aliados incômodos.

Como não existe vácuo em política, em breve a velha mídia estará caminhando rumo a Aécio Neves ou outro pré-candidato que venha a preencher o espaço da oposição.

Por tudo isso, o habilidoso Kassab certamente já deve ter definido sua estratégia. Não se afasta formalmente de Serra, aguardando que as próprias indecisões dele o confinem e a seus seguidores ao seu espaço político real, que não é maior que uma Kombi.

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