O discurso de Obama nas Nações Unidas insiste que israelenses e palestinos são parceiros iguais no conflito
Friday, 23 September 2011, no Independent
Hoje Mahmoud Abbas deveria viver seus melhores momentos. Mesmo o New York Times descobriu que “um homem cinza em ternos cinzas e sapatos sensíveis, pode estar lentamente emergindo de sua própria sombra”.
Mas isso é nonsense. O líder incolor da Autoridade Palestina, que escreveu um livro de 600 páginas sobre o conflito de seu povo com Israel sem mencionar uma só vez a palavra “ocupação”, não deveria ter dificuldades esta noite para fazer melhor que o discurso patético e humilhante de Barack Hussein Obama nas Nações Unidas, na quarta-feira, no qual ele entregou a política dos Estados Unidos no Oriente Médio ao governo engenhoso de Israel.
Para o presidente norte-americano que já pediu o fim da ocupação israelense de terras árabes, o fim do roubo de terras árabes na Cisjordânia — “assentamentos” israelenses é o que ele usava — e um estado palestino até 2011, a performance de Obama foi patética.
Como sempre, Hanan Ashrawi, a única voz palestina eloquente em Nova York esta semana, acertou. “Não pude acreditar no que ouvi”, ela disse ao Haaretz, o melhor dos jornais israelenses. “Soou como se os palestinos estivessem ocupando Israel. Não houve uma palavra de empatia com os palestinos. Ele falou apenas das dificuldades dos israelenses…” É bem verdade. E, como sempre, os mais sãos dos jornalistas israelenses, em sua condenação aberta de Obama, provaram que os príncipes do jornalismo norte-americano foram covardes. ” O claudicante, pouco imaginativo discurso que o presidente dos Estados Unidos fez nas Nações Unidas… reflete quanto o presidente norte-americano é incapaz de enfrentar a realidade do Oriente Médio”, escreveu Yael Sternhell.
E assim como os dias vão e vem, descobriremos se os palestinos vão responder à performance tíbia de Obama com uma terceira intifada ou com um dar de ombros de quem reconhece que sempre foi assim, que os fatos continuam a provar que o governo dos Estados Unidos permanece uma ferramenta de Israel, quando se trata da recusa de Israel em dar aos palestinos um estado.
Como é, perguntamos, que o embaixador dos Estados Unidos em Israel, Dan Shapiro, voou de Tel Aviv a Nova York para o debate sobre o estado palestino no mesmo avião que o primeiro-ministro israelense Netanyahu? Como é que Netanyahu estava muito ocupado batendo papo com o presidente colombiano em vez de ouvir o discurso de Obama? Ele apenas olhou de relance na parte do texto que mencionava os palestinos, quando estava ao vivo, face a face, com o presidente norte-americano. Isso não foi “chutzpah”. Foi insulto, puro e simples.
E Obama mereceu. Depois de elogiar a primavera/verão/outono árabe, seja lá o que for — mencionando os atos de coragem individual de tunisianos árabes e egípcios como se ele, Obama, tivesse estado por trás do Acordar Árabe o tempo todo, o homem se dignou a dar 10 minutos de seu tempo aos palestinos, esbofeteando-os por ousar pedir um estado nas Nações Unidas. Obama até sugeriu — e esta foi a parte mais engraçada de seu disparatado discurso nas Nações Unidas — que os palestinos e os israelenses eram dois “partidos” iguais no conflito.
Um marciano que ouvisse o discurso pensaria que, como sugeriu a srta. Ashrawi, os palestinos estão ocupando Israel em vez do contrário. Nenhuma menção da ocupação israelense, nenhuma menção de refugiados, do direito de retorno ou do roubo de terra árabe-palestina pelo governo israelense violando todas as leis internacionais. Mas Obama lamentou pelo povo cercado de Israel, pelos foguetes atirados contra suas casas, pelas bombas suicidas — pecados palestinos, naturalmente, mas nenhuma referência à carnificina de Gaza, às mortes massivas de palestinos — e mesmo pela perseguição histórica do povo judeu e pelo Holocauto.
A perseguição é um fato histórico. Assim é o maligno Holocausto. Mas OS PALESTINOS NÃO COMETERAM ESTES ATOS. Foram os europeus — cuja ajuda Obama agora busca para negar o estado aos palestinos — que cometerem esse crime dos crimes. E então voltamos ao trecho dos “partidos iguais”, como se os israelenses ocupantes e os palestinos ocupados estivessem em um mesmo campo.
Madeleine Albright adotava esta mentira abominável. “Cabe aos próprios partidos”, ela dizia, lavando as mãos, como Pilatos, das negociações, assim que Israel ameaçava chamar seus apoiadores nos Estados Unidos. Ninguém sabe se Mahmoud Abbas conseguirá produzir um discurso de 1940 nas Nações Unidas, hoje. Mas pelo menos já sabemos quem é o apaziguador.
Tradução: Luiz Carlos Azenha
PS do Viomundo: Obama quer se reeleger. Para isso, precisa vencer em Ohio e na Flórida. Qualquer palavra de desafio às posições de Israel coloca em risco a vitória de Obama nos dois estados. Ou seja, é o instinto de sobrevivência…
Friday, 23 September 2011, no Independent
Hoje Mahmoud Abbas deveria viver seus melhores momentos. Mesmo o New York Times descobriu que “um homem cinza em ternos cinzas e sapatos sensíveis, pode estar lentamente emergindo de sua própria sombra”.
Mas isso é nonsense. O líder incolor da Autoridade Palestina, que escreveu um livro de 600 páginas sobre o conflito de seu povo com Israel sem mencionar uma só vez a palavra “ocupação”, não deveria ter dificuldades esta noite para fazer melhor que o discurso patético e humilhante de Barack Hussein Obama nas Nações Unidas, na quarta-feira, no qual ele entregou a política dos Estados Unidos no Oriente Médio ao governo engenhoso de Israel.
Para o presidente norte-americano que já pediu o fim da ocupação israelense de terras árabes, o fim do roubo de terras árabes na Cisjordânia — “assentamentos” israelenses é o que ele usava — e um estado palestino até 2011, a performance de Obama foi patética.
Como sempre, Hanan Ashrawi, a única voz palestina eloquente em Nova York esta semana, acertou. “Não pude acreditar no que ouvi”, ela disse ao Haaretz, o melhor dos jornais israelenses. “Soou como se os palestinos estivessem ocupando Israel. Não houve uma palavra de empatia com os palestinos. Ele falou apenas das dificuldades dos israelenses…” É bem verdade. E, como sempre, os mais sãos dos jornalistas israelenses, em sua condenação aberta de Obama, provaram que os príncipes do jornalismo norte-americano foram covardes. ” O claudicante, pouco imaginativo discurso que o presidente dos Estados Unidos fez nas Nações Unidas… reflete quanto o presidente norte-americano é incapaz de enfrentar a realidade do Oriente Médio”, escreveu Yael Sternhell.
E assim como os dias vão e vem, descobriremos se os palestinos vão responder à performance tíbia de Obama com uma terceira intifada ou com um dar de ombros de quem reconhece que sempre foi assim, que os fatos continuam a provar que o governo dos Estados Unidos permanece uma ferramenta de Israel, quando se trata da recusa de Israel em dar aos palestinos um estado.
Como é, perguntamos, que o embaixador dos Estados Unidos em Israel, Dan Shapiro, voou de Tel Aviv a Nova York para o debate sobre o estado palestino no mesmo avião que o primeiro-ministro israelense Netanyahu? Como é que Netanyahu estava muito ocupado batendo papo com o presidente colombiano em vez de ouvir o discurso de Obama? Ele apenas olhou de relance na parte do texto que mencionava os palestinos, quando estava ao vivo, face a face, com o presidente norte-americano. Isso não foi “chutzpah”. Foi insulto, puro e simples.
E Obama mereceu. Depois de elogiar a primavera/verão/outono árabe, seja lá o que for — mencionando os atos de coragem individual de tunisianos árabes e egípcios como se ele, Obama, tivesse estado por trás do Acordar Árabe o tempo todo, o homem se dignou a dar 10 minutos de seu tempo aos palestinos, esbofeteando-os por ousar pedir um estado nas Nações Unidas. Obama até sugeriu — e esta foi a parte mais engraçada de seu disparatado discurso nas Nações Unidas — que os palestinos e os israelenses eram dois “partidos” iguais no conflito.
Um marciano que ouvisse o discurso pensaria que, como sugeriu a srta. Ashrawi, os palestinos estão ocupando Israel em vez do contrário. Nenhuma menção da ocupação israelense, nenhuma menção de refugiados, do direito de retorno ou do roubo de terra árabe-palestina pelo governo israelense violando todas as leis internacionais. Mas Obama lamentou pelo povo cercado de Israel, pelos foguetes atirados contra suas casas, pelas bombas suicidas — pecados palestinos, naturalmente, mas nenhuma referência à carnificina de Gaza, às mortes massivas de palestinos — e mesmo pela perseguição histórica do povo judeu e pelo Holocauto.
A perseguição é um fato histórico. Assim é o maligno Holocausto. Mas OS PALESTINOS NÃO COMETERAM ESTES ATOS. Foram os europeus — cuja ajuda Obama agora busca para negar o estado aos palestinos — que cometerem esse crime dos crimes. E então voltamos ao trecho dos “partidos iguais”, como se os israelenses ocupantes e os palestinos ocupados estivessem em um mesmo campo.
Madeleine Albright adotava esta mentira abominável. “Cabe aos próprios partidos”, ela dizia, lavando as mãos, como Pilatos, das negociações, assim que Israel ameaçava chamar seus apoiadores nos Estados Unidos. Ninguém sabe se Mahmoud Abbas conseguirá produzir um discurso de 1940 nas Nações Unidas, hoje. Mas pelo menos já sabemos quem é o apaziguador.
Tradução: Luiz Carlos Azenha
PS do Viomundo: Obama quer se reeleger. Para isso, precisa vencer em Ohio e na Flórida. Qualquer palavra de desafio às posições de Israel coloca em risco a vitória de Obama nos dois estados. Ou seja, é o instinto de sobrevivência…
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