21 setembro 2011

"É a ONU que deve agir agora", diz embaixador da Palestina

Chegou o momento em que a comunidade internacional, representada pelo Conselho de Segurança da ONU, vai anunciar seu veredicto e pôr fim a seis décadas de violência na Palestina histórica, entre Israel e o povo palestino. Entre o Golias e o Davi contemporâneos.

Por Ibrahim M. K. Alzeben*, em Folha de S. Paulo

Não se pode perder mais tempo em sessões de discussão. O conflito contabiliza centenas de resoluções não acatadas por Israel e bilhões de dólares gastos em missões para a região. Ninguém pode dizer que não sabia. A Palestina reivindica justiça, liberdade e independência há seis décadas. Exige o fim da ocupação colonial.

É o momento de invocar o espírito conciliador e pacifista de Enrique R. Fabrigat e de Oswaldo Aranha, cuja intenção verdadeira, ao recomendar a partilha da Palestina, era alcançar a "paz entre povos irmãos" e ver criados dois Estados.

Palestinos e israelenses somos as principais vítimas da violência decorrente dessa negligência das superpotências e de seus interesses geopolíticos e petrolíferos, que condenam novas gerações ao atraso, ao fanatismo e à violência.

Israel e Palestina, como existem hoje, não são os que desejamos para nossos filhos e para as gerações seguintes, muito menos para a região, berço de civilizações milenares, que tanto contribuíram para o patrimônio da humanidade.

É a ONU que deve agir, e agora, após 18 anos de negociações estéreis que consolidaram a ocupação israelense de nosso território.

A negociação com Israel, desde a conferência de Madri (1991) até hoje, resultou na quadruplicação do número de assentamentos e colonos em terras palestinas, na criação do muro da vergonha, no assassinato de milhares de líderes e cidadãos, na judaização de Jerusalém, capital ocupada do Estado da Palestina, no bloqueio de Gaza e em milhares de presos políticos.

É precisamente em função desses fatos flagrantes que estamos recorrendo à ONU, ao Conselho de Segurança: para buscar proteção e o direito legítimo negado.

O direito internacional, não a força, é a garantia de paz para essa Palestina apreciada e bendita, mil vezes ultrajada em nome de Deus. O mundo responsável é convocado a ajudar-nos a conviver sem medo do futuro. A comunidade internacional pode monitorar tanto as negociações futuras quanto as relações entre as duas partes, seja mediante capacetes azuis da ONU, seja por meio de organismos regionais.

O mundo está mudando. É preciso fazer uma leitura correta das primaveras populares. Os povos estão mais conscientes e participativos.

Os israelenses são convocados a rever seu pacto sociopolítico, para se abrirem ao mundo de hoje, em transformação. As reconhecidas conquistas técnico-científicas devem levá-los a se conciliarem com seus vizinhos, não a colonizá-los.

Estamos preparados para nos governarmos de modo autônomo. O maciço reconhecimento mundial é a prova. Estamos prontos e nos comprometemos a observar e cumprir o direito internacional, com todos os seus detalhes e exigências.

Não existe outra saída civilizada para o conflito a não ser a de compartilhar o território da Palestina histórica, sua capital e água; definir fronteiras, solucionar com dignidade a questão dos refugiados e depositar a página de ódio e violência em algum museu. É hora de fazer florescer nossa criatividade.

Israel deve renascer fortalecendo a tendência existente em sua sociedade de convivência pacífica com os vizinhos. Isso para que a Palestina possa existir em paz.

Exigimos o fim da ocupação e o reconhecimento do Estado da Palestina. Já.


*Ibrahim M. K. Alzeben é embaixador da Palestina no Brasil.

Vermelho

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