17 março 2011

A palhaçada não tem limite

Imprudência diplomática

Mauro Santayana

É preciso romper o silêncio da amabilidade para estranhar o pronunciamento público que o presidente Obama fará, da sacada do Teatro Municipal, diante da histórica Cinelândia. Afinal, é de se indagar por que a um chefe de Estado estrangeiro se permite realizar um comício – porque de comício se trata – em nosso país. Apesar das especulações, não se sabe o que ele pretende dizer exatamente aos brasileiros que, a convite da Embaixada dos Estados Unidos – é bom que se frise – irão se reunir em um local tão estreitamente vinculado ao sentimento nacionalista do nosso povo.

É da boa praxe das relações internacionais que os chefes de estado estrangeiros sejam recebidos no Parlamento e, por intermédio dos representantes da nação, se dirijam ao povo que eles visitam. Seria aceitável que Mr. Obama, a exemplo do que fez no Cairo, pronunciasse conferência em alguma universidade brasileira, como a USP ou a UNB, por exemplo. Ele poderia dizer o que pensa das relações entre os Estados Unidos e a América Latina, e seria de sua conveniência atualizar a Doutrina Monroe, dando-lhe significado diferente daquele que lhe deu o presidente Ted Roosevelt, em 1904. Na mensagem que então enviou ao Congresso dos Estados Unidos, o presidente declarou o direito de os Estados Unidos policiarem o mundo, ao mesmo tempo em que instruiu seus emissários à América Latina a se valerem do provérbio africano que recomenda falar macio, mas carregar um porrete grande.

Se a idéia desse ato público foi de Washington, deveríamos ter ponderado, com toda a elegância diplomática, a sua inconveniência. Se a sugestão partiu do Itamaraty ou do Planalto, devemos lamentar a imprudência. Com todos os seus méritos, a presidência Obama ainda não conseguiu amenizar o sentimento de animosidade de grande parte do povo brasileiro com relação aos Estados Unidos. Afinal, nossa memória guarda fatos como os golpes de 64, no Brasil, de 1973, no Chile, e ação ianque em El Salvador, em 1981, e as cenas de Guantánamo e Abu Ghraid.

O Rio de Janeiro é uma cidade singular, que, desde a noite das garrafadas, em 13 de março de 1831, costuma desatar seu inconformismo em protestos fortes. A Cinelândia, como outros já apontaram, é o local em que as tropas revolucionárias de 1930, chefiadas por Getúlio Vargas, amarraram seus cavalos no obelisco então ali existente. Depois do fim do Estado Novo, foi o lugar preferido das forças políticas nacionalistas e de esquerda, para os grandes comícios. A Cinelândia assistiu, da mesma forma, aos protestos históricos do povo carioca, quando do assassinato do estudante Edson Luis, ocorrido também em março (1968). Da Cinelândia partiu a passeata dos cem mil, no grande ato contra a ditadura militar, em 26 de junho do mesmo ano.

Não é, convenhamos, lugar politicamente adequado para o pronunciamento público do presidente dos Estados Unidos. É ingenuidade não esperar manifestações de descontentamento contra a visita de Obama. Além disso – e é o mais grave – será difícil impedir que agentes provocadores, destacados pela extrema-direita dos Estados Unidos, atuem, a fim de criar perigosos incidentes durante o ato. Outra questão importante: a segurança mais próxima do presidente Obama será exercida por agentes norte-americanos, como é natural nessas visitas. Se houver qualquer incidente entre um guarda-costas de Obama e um cidadão brasileiro, as conseqüências serão inimagináveis.

Argumenta-se que não só Obama, como Kennedy, discursaram em público em Berlim. A situação é diferente. A Alemanha tem a sua soberania limitada pela derrota de 1945, e ainda hoje se encontra sob ocupação militar americana. Finalmente, podemos perguntar se a presidente Dilma, ao visitar os Estados Unidos, poderá falar diretamente aos novaiorquinos, em palanque armado no Times Square.

2 comentários:

Fabio disse...

e vc esquceu de mensionar que estao privando nos donos da casa no caso os comerciantes da cineladia que ninguem podera abrir seu comercio no dia. Essa foi de mais.

Anônimo disse...

A visita

Eu não entendo desse negócio de segurança, apenas sei que deve haver muita segurança. As medidas tomadas parecem exageradas. Mas, acho que temos um problema grande, Mr. Barack Obama e família, que enquanto estiverem em território brasileiro é responsabilidade do Brasil.

No caso, adotemos a seguinte hipótese. Suponhamos que a presidenta Dilma fizesse questão para diminuir o dito exagero, para assim mostrar que é independente, manda no Brasil, etc.

Agora, imaginemos que o presidente Barack Hussein Obama, presidente dos Estados Unidos, sofresse um atentado grave na cidade do Rio de Janeiro. Neste caso, devemos imaginar a repercussão nacional e internacional que teria um trágico acontecimento desta magnitude, e o que a partir disto se diria da presidenta Dilma Rousseff.

Logo o Comando militar - ministro da Defesa e generais - diriam que foram obrigados a modificarem o plano de segurança proposto, porque estavam cumprindo ordem expressa e direta da Presidenta, Comandante em chefe das Forças Armadas.

Por outro lado, o PIG e a oposição local (DEM-PSDB-PPS, e outros), e seus aliados externos, uniriam as baterias, e falariam noite e dia o restante do mandato da presidente Dilma. Assim, abririam o cofre da maldade com chave de ouro, seria para eles a felicidade total.

Chico Barauna
18-03-2011.