20 setembro 2010

Maioria nos EUA apoia 'independência' brasileira no exterior, diz pesquisa

Alessandra Corrêa - da BBC Brasil em Washington

Quase dois terços dos americanos consideram positivo que o Brasil tenha uma política externa mais independente dos Estados Unidos, indica uma pesquisa divulgada nesta quinta-feira.

No levantamento Global Views 2010, conduzido pelo Chicago Council on Global Affairs e feito entre os dias 11 e 22 de junho, mais de 2,5 mil americanos responderam dezenas de questões sobre vários aspectos da política externa americana, proliferação nuclear, a ascensão da China e a guerra no Afeganistão, além de terem sido convidados a dar opiniões sobre outros países.

Questionados sobre o fato de países como Brasil e Turquia se tornarem mais independentes dos Estados Unidos na condução de sua política externa, 69% dos entrevistados dizem considerar isso um fato positivo.

Apenas 28% afirmam acreditar que a independência desses países em política externa seja negativa, porque desse modo estariam mais propensos a tomar decisões que os Estados Unidos não apoiariam.

Visão positiva

Na avaliação dos sentimentos dos americanos em relação a 22 países, o Brasil aparece em sexto lugar, com média de 56 em uma escala de zero a cem (sendo zero a avaliação mais desfavorável e cem a mais favorável).

A maioria dos americanos diz acreditar que as relações entre Estados Unidos e Brasil são estáveis.

Entre os entrevistados, 64% dizem que as relações permanecem iguais, enquanto 15% afirmam que estão melhorando, e outros 15%, que estão piorando.

No entanto, a pesquisa indica que, a maioria dos americanos não considera o Brasil especialmente importante ou influente.

Apenas 10% dos entrevistados dizem considerar o Brasil “muito importante” para os Estados Unidos, o que coloca o país em último lugar, ao lado da Turquia, na lista de importância.

Outros 44% afirmam que o Brasil é “um pouco importante”.

Na pergunta sobre o nível de influência que os países têm hoje e a perspectiva para daqui a dez anos, o Brasil recebe, respectivamente, média de 4,2 e 4,8, em uma escala de zero a 10.

Segundo os autores da pesquisa, isso demonstra que, apesar dos níveis baixos, a percepção dos americanos é de que a influência do Brasil está aumentando.
Declínio

Em meio à lenta recuperação da economia dos Estados Unidos, a pesquisa revelou que nove em cada dez americanos acreditam que é mais importante para o futuro do país se concentrar nos problemas domésticos do que em desafios no exterior.

"Depois de nove anos de guerras difíceis e da maior crise financeira desde 1930, os americanos querem se concentrar nas questões domésticas e estão mais seletivos no uso da influência e dos recursos dos Estados Unidos no exterior", diz o presidente do Chicago Council on Global Affairs, Marshall Bouton.

A pesquisa mostra ainda uma aumento no número de americanos que acreditam que o papel dos Estados Unidos como líder global está em declínio.

O percentual de americanos que acreditam que os Estados Unidos têm hoje um papel mais importante e poderoso como líder global do que há dez anos é de apenas 24%, o menor nível desde que a pesquisa começou a ser feita, e bem abaixo dos 55% registrados em 2002.

No mesmo período, a proporção dos que dizem que os Estados Unidos têm um papel global menos importante do que há dez anos passou de 17% em 2002 para 37% neste ano.
Irã e muçulmanos

A pesquisa revela ainda que a maioria acredita que uma ação militar contra o Irã resultaria em ataques terroristas dentro dos Estados Unidos e ataques contra alvos americanos no Oriente Médio.

No entanto, caso todas as alternativas para conter as ambições nucleares do Irã fracassem, 47% dos entrevistados apoiariam uma ofensiva militar.

Os resultados revelaram também uma crescente visão negativa sobre os muçulmanos.

Entre os entrevistados, 45% afirmam que as tradições religiosas, sociais e políticas dos muçulmanos são incompatíveis com o ocidente e, por isso, “conflitos violentos entre as duas civilizações inevitáveis”, aumento de 18 pontos percentuais em relação aos 27% registrados na pesquisa de 2002.

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