Na tarde do sábado, dia 10.07., visitei, junto a um pequeno grupo de cinco pessoas, diversas instalações no centro da cidade voltadas para o apoio dos Sem Teto ― em alemão Obdachlose―, que vivem em Hamburgo.
O encontro, promovido rotineiramente pelo jornal “Hinz&Kunzt”, se deu no prédio onde funciona sua central. (http://www.hinzundkunzt.de/)
Fomos levados a uma ampla sala reservada à introdução de informações sobre o passeio de duas horas. Diante de cada lugar, folhetos sobre a situação atual dos Sem Teto de Hamburgo e o Projeto “Hinz&Kunzt”.
Fred, nosso guia, a 17 anos um Obdachlos por fatalidade e posteriormente por opção, não deixou uma pergunta sem resposta. Apresentou a segurança de quem sabe do que fala.
O encontro, promovido rotineiramente pelo jornal “Hinz&Kunzt”, se deu no prédio onde funciona sua central. (http://www.hinzundkunzt.de/)
Fomos levados a uma ampla sala reservada à introdução de informações sobre o passeio de duas horas. Diante de cada lugar, folhetos sobre a situação atual dos Sem Teto de Hamburgo e o Projeto “Hinz&Kunzt”.
Fred, nosso guia, a 17 anos um Obdachlos por fatalidade e posteriormente por opção, não deixou uma pergunta sem resposta. Apresentou a segurança de quem sabe do que fala.
“Hinz&Kunzt”
Criado em 1993, com a finalidade de ajudar os Obdachlose a saírem da situação de desesperança em que se encontravam, o jornal“Hinz&Kunzt” já fez estória.
O primeiro jornal do gênero foi impresso na Inglaterra. Na Alemanha foi denominado “Hinz&Kunzt” (apelido de Heinrich e Konrad), em referência à alcunha originada na Idade Média e que tem sido usada desde então para denominar “Jedermann”, que significa todos ou cada um.
Inicialmente, a publicação mensal era em torno dos 100 mil exemplares. Ao longo dos seus 17 anos de existência foram vendidos mais de 14 milhões de jornais. Atualmente o número gira em torno dos 65 mil. Sua venda é feita em Hamburgo e cidades próximas por 400 vendedores ativos.
Fred nos explicou que 50% do jornal é financiado pelas vendas, a outra metade, por doações. Todos que escrevem para o jornal são profissionais da área.
Venda do jornal
É possível viver de maneira modesta com a ajuda dada pelo Estado alemão, que oferece casa, comida, aquecimento e assistência médica, além da contribuição à futura aposentadoria.
Todavia o Sem Teto tem optado por viver afastado desse mesmo Estado que ajuda mas controla. Ele sobrevive às custas da esmola ou da participação no projeto “Hinz&Kunzt”, onde recebe uma carteira de vendedor e, como capital inicial, 10 jornais gratuitos, que vende a 1,80 euro. Com o dinheiro ganho com a venda dos primeiros exemplares, o Sem Teto compra por 0,80 cents mais exemplares. É interessante notar que ao comprar o jornal, o Obdachlos não poderá devolver os exemplares não vendidos. O risco, portanto, é dele, o que faz com que compre de acordo com a saída do material adquirido.
No início do Projeto só os Obdachlose podiam vender o jornal. Com o passar do tempo, no entanto, mesmo depois de terem encontrado um local para morar, muitos dos Sem Teto optaram por continuar vendendo o jornal, o que gerou conflito com a proposta inicial.
Segundo Fred, no início do projeto, seis meses depois do Obdachlos conseguir um teto, deveria parar de vender o jornal. Porém, como inúmeros Sem Teto se saíram bem na profissão de vendedor, ameaçaram abandonar seus apartamentos se tivessem que parar com a venda.
Perguntei sobre como os pontos de venda são administrados, já que existem locais mais rentáveis que outros. Fred informou que depois de 8 semanas vendendo no mesmo ponto, o vendedor conquista o “direito” ao local.
A participação das mulheres nas vendas gira entre 17 a 20% dos vendedores.
A vida do Obdachlos ou Sem Teto
Pode parecer paradoxal mas o Obdachlos prefere o inverno ao verão. Paradoxal porque o inverno rigoroso, às vezes -15°C ou mesmo -20°C, desanima qualquer um a sair de casa, menos ainda dormir na rua. Para o Obdachlos no entanto o inverno não assusta. Ele dorme dentro de um saco forrado com uma grossa camada de penas. Quem já dormiu com um cobertor de pena de ganso sabe do que estou falando. A preferência se dá devido o dia escurecer por volta das 16 horas e ele poder se recolher mais cedo do que no verão, que escurece a partir das 22 horas. Ele dorme comumente em vãos de lojas, cemitérios ou debaixo de viadutos.
Como o Sem Teto se veste como qualquer outro cidadão asseado e segue os padrões elementares de convívio, não encontra dificuldade em entrar em qualquer prédio para usar o toalete.
Sobre seus pertences que carrega sempre consigo, Fred nos explicou que os Sem Teto podem depositar de graça seus pertences em “Stützpunkt”, os chamados pontos de apoio entre 7-9 e apanhar novamente entre 19-21 horas e circular com certa desenvoltura pela cidade.
Além desses pontos de apoio, existem à disposição dos Obdachlose locais onde eles comem, banham e fazem uso de máquina de lavar e secar roupas.
Visitamos um desses locais, mas apenas por fora, já que os Sem Teto não gostam de ser observados por curiosos quando comem e cuidam de sua higiene. Diferentemente de outros locais, onde as pessoas têm que pagar um preço simbólico de 2 euros para comer, por exemplo, tudo naquele local é gratuito. Desde a comida até o banho, com sabão e toalha inclusive, passando pelo uso de máquinas de lavar roupa até orientação feita por assistentes sociais.
Droga e álcool são proibidos no local. Porém, caso a pessoa chegue alcoolizada, tem que se comportar adequadamente.
Um ponto importantíssimo colocado por Fred foi a possibilidade do Obdachlos poder se registrar no local para receber cartas e se comunicar com as repartições do governo, caso necessário.
Número de Sem Teto
Segundo estatísticas, existe entre 1000 e 1500 Obdachlose em Hamburgo, dos quais 150 vivem no centro da cidade.
75% deles freqüentaram até a 8° série colegial ou têm algum tipo de formação profissional de nível médio.
Mesmo com o que sobrou do Estado Social alemão é estarrecedor saber que dentre os Sem Teto de Hamburgo encontram-se 200 a 300 crianças com idade entre 12 e 14 anos.
Sobrevivência
Fred nos contou que os Sem Teto solitários têm mais chance de encontrar um lugar para dormir do que os que andam em grupo, já que o solitário chama menos a atenção dos passantes e das autoridades.
Quando falo autoridade refiro-me especialmente à polícia que deve tratar um Obdachlos com a mesma deferência que trata um cidadão vestindo Armani. O tratamento usado deve ser o “Sie” (senhor(a) ), nunca Du (você). Devo ressaltar que a diferenciação entre os dois termos é marcante na sociedade alemã.
Despedimo-nos na estação central de trem com a sensação de ter conhecido um pouco mais sobre a vida de uma das cidades mais ricas da Europa.
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