14 junho 2010

Dilma cita Lula trinta vezes em discurso de formalização de sua candidatura

Fabrícia Peixoto - Da BBC Brasil em Brasília

A ex-ministra da Casa Civil Dilma Rousseff teve sua candidatura homologada pelo PT neste domingo com um discurso em que defendeu a continuidade dos principais projetos da gestão atual.

Em uma fala que durou cerca de 50 minutos, a candidata mencionou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva trinta vezes.

A transferência de popularidade de Lula para Dilma é apontada como o principal trunfo da candidata do PT na disputa pelo Palácio do Planalto.

“Não é por acaso que, depois desse grande homem, o Brasil possa ser governador por uma mulher. Por uma mulher que vai continuar o Brasil de Lula, mas com alma e coração de mulher”, disse a ex-ministra, durante a convenção do partido, em Brasília.

O discurso poupou críticas a seus principais opositores na disputa eleitoral. Em uma das poucas referências indiretas à gestão tucana, Dilma disse presidentes antes de Lula governaram “para um terço da população” e que “o resto era carga, era estorvo”.

Na maior parte do tempo, a candidata do PT mencionou setores e projetos considerados símbolos do governo Lula, como o pré-sal, o Prouni e a quitação da dívida com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

“Desfrutamos da estabilidade econômica com reservas internacionais muito maiores do que nosso compromisso. No passado, íamos de pires na mão ao FMI pedir empréstimo”, disse.

Lula

O lançamento oficial da candidatura de Dilma Rousseff teve a presença de diversas lideranças políticas de partidos aliados, como PDT, PC do B e PMDB. Entre eles, o presidente do Senado, José Sarney e o vice na chapa liderada pela petista, o deputado federal Michel Temer, ambos do PMDB.

Mas coube ao presidente Lula a função de convidado ilustre, despertando a histeria entre os militantes presentes - a maioria, mulheres.

Lula falou por meia hora e pediu que a campanha seja de “alto nível”, criticando aqueles que “ficam inventando dossiê todo dia”.

“Já estamos calejados, estamos maduros, já sabemos como eles funcionam”, disse o presidente.

“Portanto, muita tranqüilidade à companheira Dilma (na campanha). O bicho vai pegar”, acrescentou.

Militância feminina

O auditório, localizado em um centro de eventos em Brasília, foi praticamente tomado pela militância feminina, que chegou a subir nas cadeiras para cantar o jingle “Lula tá com ela, eu também tô”.

A tônica da convenção do partido foi a homenagens às mulheres. Um vídeo produzido pelos organizadores mencionou “a coragem e a sensibilidade” de mulheres como a princesa Isabel, Maria Quitéria e Chiquinha Gonzaga, entre outras.

“Com sensibilidade elas mudaram o Brasil. E com a mesma sensibilidade, ela vai fazer um Brasil diferente”, dizia o locutor.

A estratégia de explorar a questão feminina também permeou todo o discurso da candidata do PT.

“Que essas pequenas Vitórias e Marias também possam responder, como fazem os meninos: eu quero ser presidente do Brasil”, disse Dilma, no encerramento do discurso.

Desafios

Sem nunca ter concorrido a um cargo eletivo, a candidata do PT terá de convencer os eleitores de que é capaz de administrar o país.

A falta de experiência de Dilma Rousseff deverá ser o principal alvo de seus opositores na corrida presidencial. Em discurso na convenção do PSDB, neste sábado, o candidato José Serra disse que não caiu “de paraquedas”.

Para muitos analistas, a ex-ministra também precisa trabalhar melhor sua desenvoltura diante de situações adversas, como denúncias e acusações típicas de campanha eleitoral.

A três meses das eleições, Dilma e Serra estão empatados de acordo com as principais pesquisas, ambos com 37% das intenções de voto.

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