18 maio 2010

Garcia: EUA 'vão se dar mal' se optarem por sanção ao Irã

Lúcia Müzell - Terra


O assessor especial da presidência da República para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, afirmou nesta terça-feira em Madri que os Estados Unidos sofrerão sanções morais se continuarem insistindo em aplicar sanções econômicas e comerciais ao Irã caso o país se recuse a cumprir o tratado internacional de não-proliferação nuclear.

"Se os Estados Unidos optarem pela sanção, eles vão se dar mal. Vão sofrer uma sanção moral e política", afirmou Garcia, que acompanha o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na sua viagem à Espanha. "Cabe aos Estados Unidos decidirem se querem ou não um 'new deal' com o Irã", disse o assessor direto de Lula.

Quando deu a declaração, Garcia ainda não tinha tomado conhecimento do anúncio da secretária de Estado americana, Hillary Clinton, de que Estados Unidos, China e Rússia entraram em um acordo sobre as sanções ao Irã a respeito do seu controverso programa nuclear, à revelia do acerto que o Brasil e a Turquia haviam conseguido no domingo com o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad. Após ser informado do anúncio, Garcia se recusou a comentá-lo antes de saber dos detalhes. Conforme o anúncio da americana, os três países entrariam ainda hoje no Conselho de Segurança da ONU com um pedido de resolução prevendo as sanções.

Na segunda-feira, Hillary já havia demonstrado por telefone a sua desconfiança em relação ao Irã para o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. De acordo com Garcia, os Estados Unidos gostariam de negociar com o Irã apenas depois de já terem aplicado as sanções, posição da qual o Brasil discorda.

Em relação ao anúncio, por parte do Irã, de que o país continuaria a enriquecer urânio internamente mesmo depois de se comprometer a entregar parte do material para enriquecimento no exterior - conforme prevê o acordo intermediado por Brasil e Turquia -, Garcia disse que "cada coisa tem o seu momento". O assessor avalia que Ahmadinejad teria se recusado a prosseguir as negociações se Lula e o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, tivessem mencionado essa questão. "O enriquecimento de urânio não é proibido. O que nós procuramos foi criar confiança. Eu acho que a relação que o Irã estabeleceu com o Brasil e a Turquia foi uma relação de confiança", disse.

"Governo não é ONG"
Quando questionado sobre as constantes violações dos Direitos Humanos cometidas no Irã, e se o presidente Lula havia abordado de alguma forma este problema na reunião que teve com Ahmadinejad, Garcia revelou que o presidente brasileiro fez "outros pedidos" ao governo iraniano, mas se recusou a revelar quais são. "O governo não é uma ONG. As ONGs podem ficar dando declarações de direitos humanos. O presidente Lula encaminhou outros pedidos ao governo iraniano que nós esperamos que venham a ter sucesso", afirmou.

Ele confirmou a intenção do Brasil em ampliar o grupo de negociações sobre o tratado de não-proliferação nuclear, liderado por Rússia, China, Reino Unido, França, Estados Unidos e Alemanha. A intenção faz parte dos antigos planos brasileiros de obter uma cadeira de membro-permanente no Conselho de Segurança da ONU.

Garcia ressaltou que o Brasil estava ciente dos riscos que a visita de Lula ao Irã implicava, tanto no plano internacional como também na política interna. "Ele sabia que era uma aposta grande, que poderia comprometer alguns planos do Brasil, como a entrada permanente no Conselho de Segurança", disse. "Nós estamos com eleições no Brasil, e obviamente isso seria explorado pela oposição como uma aventura ou um fracasso, ou ainda dizendo que somos aliados do Irã. Mas achamos que de qualquer maneira valeria a pena", disse.

Conforme o assessor do presidente, Lula e o presidente francês, Nicolas Sarkozy, não falaram sobre a possível venda dos caças franceses Rafale para a Defesa brasileira, ao contrário do que especulava a imprensa francesa na manhã de hoje. Os dois líderes se encontraram para uma reunião bilateral para discutir o acordo intermediado por Lula no Irã.

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