19 abril 2010

Fotógrafo de Lula conta o que aprendeu com o pai, pioneiro na função na gestão Figueiredo

Roberto Filho, Roberto (Stuckão) e Ricardo Stuckert: família fez tradição no fotojornalismo político na capital federal

por Marina Novaes, do R7

Há 50 anos, o fotógrafo Roberto Stuckert, 66, chegava a Brasília para cobrir a construção e a inauguração da capital federal. Anos mais tarde, já com residência fixa na cidade, ele e o filho Ricardo, 40 – que seguiu os passos do pai – dividiriam uma rara coincidência no currículo: Ricardo, o Stuckinha, é o fotógrafo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva; já Roberto, o Stuckão, desempenhou o mesmo cargo na gestão do ex-presidente João Baptista Figueiredo, entre 1979 e 1985.

Pai e filho são autores das duas únicas fotos oficiais de presidentes que posaram sorrindo – apenas Lula e Figueiredo toparam a imagem “sorridente”. Além disso, ambos conheceram seus futuros “chefes” quando trabalhavam na cobertura de campanhas eleitorais.

Na trilha do pai e do irmão, Roberto Filho, o Stucka, assume agora a mesma função na cobertura de campanha da pré-candidata do PT à Presidência, a ex-ministra Dilma Rousseff. Ricardo comenta as coincidências entre o trio:

- Meu pai foi o fotógrafo do último presidente militar do Brasil. Eu sou fotógrafo do primeiro operário eleito presidente. E meu irmão pode se tornar o fotógrafo da primeira mulher a assumir a Presidência, se a Dilma ganhar.

Foi em Brasília também que o pai de Stuckão, o fotógrafo Eduardo Roberto, decidiu fundar, na década de 70, a agência de fotojornalismo da família: a Stuckert Press, que abastecia os principais veículos jornalísticos do país com imagens do Planalto Central – até hoje em funcionamento.

Cheio de histórias na bagagem, o bem-humorado patriarca da família estima ser o fotógrafo mais antigo de Brasília na ativa. Além de ter sido o fotógrafo de Figueiredo, Stuckão passou por alguns dos principais jornais e revistas do país, cobriu três Copas do Mundo e já perdeu a conta de quantos líderes políticos passaram pelas suas lentes.

- O número do meu registro profissional é o 0002/DF.

Segundo ele, “entre mortos e feridos”, a família Stuckert reúne cerca de 30 fotógrafos. Pai de seis filhos e avô de nove netos, Roberto – que é casado com a mesma mulher há 47 anos - conta que as crianças da família já aprendem desde cedo a pegar gosto pela profissão.

- Quando meus netos nascem, eu já dou uma máquina fotográfica de borracha para eles brincarem. Mas são eles que vão escolher o que querem fazer. Meus filhos fizeram faculdade e só depois é que decidiram ser fotógrafos.

Discrição

Além do talento, a discrição é o principal pré-requisito para exercer a função de fotógrafo oficial de um presidente da República. Vinte anos após seu pai receber o convite de Figueiredo, Ricardo ouviu dele o mesmo conselho que agora daria ao irmão Roberto, caso assuma a vaga.

- Você está lá pra fotografar. Não ouve, não vê e nem fala nada.

Stuckão repete o ensinamento que deu ao filho há oito anos e destaca:

- A gente tem que ser igual àqueles três macaquinhos [em referência ao trio de macacos surdo-mudo]. O Figueiredo já morreu, e tem coisas que eu vi que vou levar para o túmulo.

Nenhum deles, porém, faz questão de esconder o carinho que sentem pelos presidentes. Tanto Stuckão quanto Stuckinha compararam a relação com os líderes com a de pai e filho. Isso porque, durante o tempo em que dura a gestão, os fotógrafos praticamente abrem mão da agenda pessoal para encarar a rotina presidencial.

Prestes a deixar o cargo – já que o mandato de Lula termina neste ano – Ricardo mantém em sigilo o próximo rumo de sua carreira, e se diz satisfeito com a maratona que encarou nos últimos anos.

- Acompanhei o Lula em todas as viagens internacionais do presidente. [...] Foram quase dois milhões de fotos por ano.

Para pai e filho, não há como separar Brasília – cidade onde vive grande parte do clã - da incomparável experiência que compartilham no currículo, como conclui Ricardo.

- Assim como a fotografia, Brasília está na veia dos Stuckert.

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