13 março 2010

Parece que os estudiosos e políticos alemães são mais realistas que a oposição nacional

Brasil pós-Lula é tema de debate em Berlim

Autor: Marcio Damasceno


Brasileiros acham que país manterá continuidade nos âmbitos interno e internacional. Alemães anseiam por mais cooperação. E há quem acredite que Lula voltará ao poder muito antes do que se pensa.

Lula voltará daqui a quatro anos à presidência. A previsão é do cientista político Lucio Rennó, do Instituto Giga (German Institut of Global and Area Studies), de Hamburgo, e foi lançada durante o seminário "Brasil em ano eleitoral – o que vem depois de Lula?", promovido em Berlim na quinta e sexta-feira (11-12/3) pela Fundação Konrad Adenauer e a Sociedade Brasil-Alemanha, que comemora 50 anos de fundação.

A visão do pesquisador brasileiro serviu para instigar o debate de uma das mesas redondas do evento. "A função do cientista político é fazer prognósticos e também provocar. Essa foi minha intenção e acho que tive pleno sucesso", reconheceu, pouco depois que outro integrante da mesa de discussões, o deputado federal Rodrigo Maia, presidente do DEM, acusou a tese de ser mais digna de sair da boca de um "vidente" do que de cientista político.

Durante o painel dedicado à política interna brasileira, Rennó defendeu a tese de que as eleições já estariam decididas a favor de Dilma Rousseff. Segundo ele, quem implementa uma política econômica de sucesso no Brasil, teria automaticamente sucesso nas urnas em uma eleição presidencial.

"Não acho que as eleições para presidente estejam decididas", discordou Rodrigo Maia, acrescentando que, em sua opinião, o carisma e a alta popularidade do presidente Lula não renderão votos suficientes para Dilma. O político carioca, entretanto, reconheceu que José Serra poderia estar perdendo terreno na disputa. "Ele corre risco, por ter optado por evitar criticar o presidente Lula até abril", observou.

Em outro painel, a deputada federal alemã Anette Hübinger destacou os desenvolvimentos da economia brasileira nos últimos anos, sob a perspectiva alemã. "A situação dos mais pobres melhorou, o mercado interno se fortaleceu, a economia brasileira vem crescendo", afirmou a política, integrante da comissão para cooperação econômica da bancada democrata-cristã no parlamento alemão.

"Entretanto, 20% da população ainda está abaixo da linha de pobreza, a concentração de terras é a segunda pior do mundo e a criminalidade ainda é alta no país", ressaltou. Hübiger também citou problemas na área de meio ambiente. "Segundo dados do Ministério alemão de Cooperação Econômica e Desenvolvimento, o desmatamento na Floresta Amazônica atinge anualmente uma área equivalente a 5 mil campos de futebol", disse.

Debate foi promovido pela Sociedade Brasil-AlemanhaBildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: Debate foi promovido pela Sociedade Brasil-Alemanha

Segundo a deputada, a Alemanha tem interesse em cooperar com o Brasil e investir principalmente na área da tecnologia ambiental. Hübiger enumerou diversos projetos conjuntos, levados adiante por instituições de ambos os países, incluindo os previstos durante o Ano Brasileiro-Alemão da Ciência, Tecnologia e Inovação, a ser celebrado de abril próximo até abril de 2011. "Queremos trabalhar com ideias conjuntas", acrescentou.

Pedro Trengrouse, consultor especial do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento para a Copa do Mundo de 2014, rebateu preocupações sobre possíveis problemas de segurança durante o mundial de futebol no Brasil, lembrando outras festas de grande porte realizadas no país. "O Brasil tem um histórico de grandes eventos sem problemas. O maior réveillon do mundo acontece em Copacabana, com mais de 2 milhões de pessoas, e não há incidentes", afirmou. "A prova de fogo foram os Jogos Panamericanos, de dimensões olímpicas, onde não tivemos o menor incidente", ressaltou.

Vice-diretor do Instituto Alemão de Relações Internacionais e Segurança (SWP), em Berlim, o cientista político Günther Maihold declarou que o Brasil deve flexibilizar sua ideia de soberania nacional, em favor de uma cooperação mais afinada com parceiros como EUA e UE. "Lula entende soberania nacional como autonomia", criticou. "O país poderia estar melhor, se aprofundasse a cooperação com Estados Unidos e Europa", afirmou.

Na avaliação de José Botafogo Gonçalves, presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais, o Brasil pós-Lula continuará sendo um grande exportador de produtos agrícolas, integrado com seus vizinhos sul-americanos, que conservará a "capacidade de se ir autocorrigindo, sem sofrer rupturas institucionais".

"Em sua história, o Brasil sempre realizou emendas em sua Constituição, sem que tenha havido grandes rupturas", disse durante a mesa redonda dedicada ao papel brasileiro no cenário internacional. "Acho que, depois de Lula, o país vai continuar tendo essas características, e não acontecerá nada que possa comprometer a linha política traçada por Lula, de consistência na parte econômica e comercial", concluiu.

Deutsche Welle

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