20 novembro 2009

LULA, O FILHO DO BRASIL

Obra contida

Por Washington Araújo em 19/11/2009

O filme de Fábio Barreto, estrelado por Rui Ricardo Diaz, Gloria e Cleo Pires, reproduz na tela grande o mito do herói. Da extrema penúria do sertão pernambucano à periferia do cais do porto de Santos, em viagem de 13 dias e 13 noites em um pau-de-arara, e dessa viagem o nascimento de emblemática liderança operária. A matriarca, dona Lindu, vivida por Glória Pires, pontua a trajetória. Mulher sofrida, abandonada pelo marido, cheia de filhos pequenos, estrangeira na cidade grande. Como viúva de marido vivo, Lindu protege Lula e seus irmãos do mundo e do pai sempre bêbado, o agressivo Aristides. Ela é a âncora, o chão emocional e a única personagem que infunde valores ao filho. É recorrente seu conselho ao filho prenhe de futuro glorioso: "Se você tem que fazer, vá e faça; e se não pode fazer, espere e depois faça"; e também o não menos incisivo chamado à perseverança usando o curioso verbo: "Teime, meu filho. Teime".

Dona Lindu é quem tece os fios do destino. A bem da verdade, o nome do filme deveria ser Lindu, a filha do Brasil.

Fiel ao livro de Denise Paraná, o filme assume cores do épico. Não temos aqui Moisés abrindo o Mar Vermelho nem Jivago, em meio à revolução bolchevique de 1917, vivendo tórrido romance com Lara. Mas temos um Zé Ninguém brotando como xique-xique no sertão nordestino e guiado pelo bordão popular do "deixe a vida me levar, vida leva eu".

Toda pobreza quando bem evocada no cinema já traz um que de trágico – e daí é um pulo para o épico. No caso desse filme não vemos pobreza, encontramos penúria. Os personagens parecem destituídos de tudo. Cada pequeno dia vivido é uma vitória. Se dona Lindu é a heroína, o pai Aristides é o vilão. Vilão agressivo quando presente. E não faltam situações a nos levar ao mundo das emoções mais sentidas: o frangote que se interpõe entre a mãe e o pai quando este ameaça surrá-la; o ainda imberbe adolescente Luiz Inácio recebendo o diploma de torneiro mecânico do Senac; o casamento e o sonho da casa própria; a morte do primeiro filho e da mulher durante o parto; o acidente na metalúrgica que lhe custou o dedo mindinho; a assembléia com milhares de operários lotando o estádio de Vila Euclides e na falta de microfone a forma encontrada para se passar à multidão seu discurso; a liberdade da prisão, por algumas horas, para ir ao cemitério se despedir da mãe.

Rui Ricardo Diaz, o ator que vive Lula dos 18 anos 35 anos, merece todos os aplausos. Sua performance é cativante e, o melhor, é crível. O diretor, se quisesse, poderia se desencaminhar para o estilo lacrimogêneo – afinal, a história de Lula é em si mesma um roteiro, onde não faltam emoção e lágrimas, muitas lágrimas. Mas Fábio Barreto optou por uma obra contida. E acertou em cheio. É que não existe um personagem a ser construído nas telas, e sim uma história a ser contada na tela.

4 comentários:

Bafafa disse...

Ja estou na fila para assistir.

Jorge Sousa disse...

O PIG chega a ser um descalabro.

Anônimo disse...

A oposição podia filmar a vida do Gilmar Mendes. Todos os basileiros iriam certamente assistir kkkkkkkkkk

Carlos Cassaro disse...

Perdão, Gloria, mas sem querer te corrigir e já corrigindo:
O curso de torneiro é do SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), e não do SENAC (Serviço Nacional de Aprendizagem do Comércio).

Só pra constar....
Abração.