26 outubro 2009

"Brasil terá juros de primeiro mundo", diz banqueiro

"O processo de queda dos juros deve continuar e acredito que o Brasil terá juros de país do primeiro mundo." A afirmação é de um dos principais banqueiros do país, Luiz Carlos Trabuco Cappi, que preside o Bradesco desde março deste ano.

Em entrevista exclusiva concedida ao iG na semana passada, ele afirmou que é concreta essa possibilidade de o Brasil ter juros do primeiro mundo. Só não quis fazer uma aposta de quando será esse dia.

“Foi uma grande conquista chegarmos ao juro de um dígito neste ano e a tendência que vemos é que esse ajuste para baixo continue”, disse Trabuco.

Há 40 anos no banco, Trabuco assumiu o Bradesco num momento difícil. O Brasil anunciava oficialmente que estava em recessão e o Bradesco tinha perdido, havia poucos meses, a liderança do ranking dos bancos privados para o Itaú, depois de cinco décadas no topo.

O Brasil já saiu da crise, mas o Bradesco ainda permanece em segundo no ranking dos bancos privados. Trabuco, que atualmente está lendo o livro “A Riqueza na Base da Pirâmide, Erradicando a Pobreza com o Lucro”, de CK Prahalad, não foge do desafio:

“É um trabalho feito por etapas”, afirmou. O seu objetivo é fazer com que o Bradesco atinja 100% dos municípios brasileiros para absorver os novos consumidores de produtos e serviços "que estão emergindo por conta do fenômeno da mobilidade social", afirma. Exatamente como descrito no livro de Prahalad.

A seguir, a entrevista:

iG: Qual é sua meta para os próximos anos? Passa por recuperar a posição de maior banco privado brasileiro?

Trabuco: É um trabalho feito por etapas. O foco inicial é fazer com que o Bradesco, que já tem um poder de distribuição dos mais altos do mercado, amplie essa capacidade. É possível fazer mais. Estamos em 95% dos municípios brasileiros e devemos chegar a 100%. Nossa intenção é ter pelo menos um ponto de contato físico com o cliente em cada um dos municípios brasileiros. Queremos absorver os novos consumidores de produtos e serviços financeiros que estão emergindo por conta do fenômeno da mobilidade social.

iG: Quais são os demais planos do Bradesco para os próximos anos?

Trabuco: Ser mais eficiente, ter mais qualidade de atendimento e ampliar a escala de atuação. Esse tripé é fundamental para quem pretende manter um ritmo acelerado de expansão orgânica.

iG: A crise acabou?

Trabuco: Sim, desde a virada do ano a crise ficou no retrovisor. A partir de agora, as coisas vão se normalizando, gradativamente.

iG: Com que previsão de crescimento o Bradesco trabalha para os próximos anos?

Trabuco: O Brasil tem todas as condições de crescer 5% ao ano. Isso é resultado da qualidade dos fundamentos da economia. A gestão econômica foi exemplar durante a crise. Foi tempestiva e no tamanho adequado.

iG: O Sr. acha possível o Brasil ter juros de país do primeiro mundo?

Trabuco: Acredito nisso. Estamos na trajetória de juros de primeiro mundo. Os juros caíram e os spreads também. O difícil é dizer quando será, pois há muitas variáveis. Mas esse cenário é concreto. Foi uma grande conquista chegarmos ao juro de um dígito neste ano e a tendência que vemos é que esse ajuste para baixo continue.

iG: O que o Sr. achou da decisão do Copom na semana passada?

Trabuco: A decisão do Copom foi correta, depois de uma trajetória acelerada de queda, é hora de sentir os efeitos.

iG: O Bradesco considera buscar o mercado internacional?

Trabuco: O trabalho está direcionado ao mercado interno. Há a perspectiva do ingresso de 100 milhões de novos consumidores de produtos e serviços financeiros nos próximos anos. Hoje, isso atrai investidores de todas as partes do mundo. Eu mesmo recebo pelo menos uma visita por dia.

iG: Quais são os planos do Bradesco para a área não financeira do banco?

Trabuco: O foco do Bradesco é trabalhar apoiado em dois pilares: área financeira e área de seguros. As participações em atividades não financeiras estão concentradas na Bradespar, uma holding, que participa dos Conselhos de Administração de empresas, como acionista. Os Conselhos de Administração delas é que devem definir a estratégia e objetivos. Somos investidores atentos, mas investidores.

iG: Qual é sua avaliação do governo Lula?

Trabuco: Um marco para a história brasileira.

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