por VANESSA RODRIGUES - Diário de Notícias/Portugal 20.07.2009
Em seis anos de Presidência do Brasil, Lula da Silva continua com uma imagem intocável, um apoio popular maioritário, imunidade contra sucessivos escândalos e acaba até de arrecadar o Prémio UNESCO de embaixador da paz. Nunca o Brasil teve um presidente assim
Quando, em Abril deste ano, o Presidente norte-americano, Barack Obama disse, num círculo restrito de líderes mundiais, que Lula da Silva "é o político mais popular da Terra", seguido de um gracejar descontraído: "Esse é o homem! Adoro-o!", o Presidente do Brasil, apesar de tímido como uma criança bem-comportada, sabia que o elogio, dito assim no pódio da elite de estadistas internacionais, significava que tinha entrado para o clube restrito dos políticos mais influentes do mundo.
Não é por acaso: Lula foi o primeiro chefe de Estado a encontrar-se com Obama, então ainda Presidente recém-eleito dos Estados Unidos. Há poucos dias, vimo-lo a entregar uma camisola da selecção brasileira de futebol ao homólogo norte-americano e Obama pediu-lhe que o ajudasse a mediar o conflito com o Irão. Agora a UNESCO acaba de lhe entregar o prestigiado prémio de embaixador da paz mundial, o Félix Houphouët-Boigny (caixa).
O que mais surpreende os cientistas políticos é que, no sexto ano de mandato como Presidência da República, a imagem de Lula já deveria ter sofrido "desgaste". Pelo contrário. "Lula, quando faz certo, acerta, quando não faz nada, também acerta, e quando faz algo errado, sai intocável", analisa o cientista político Paulo Baía, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
"Para a maioria da população, ele é uma pessoa generosa que apoia até os políticos em más alturas, como no caso da crise no Senado", diz. Nas sondagens de Baía, ficou "evidente que as pessoas se identificam com ele", como se espelhasse os desejos e as frustrações de todos, por isso não o recriminam. Sem diploma universitário, ex-metalúrgico e ex- -sindicalista, Lula dá erros de português, faz metáforas com o futebol e passou fome. "Coisas que só pobre entende", disse Lula na campanha de 2006, quando discursava no interior de São Paulo.
"A maior transformação que o Presidente Lula trouxe para o Brasil, e que o faz ter ainda uma aceitação incrível na sociedade brasileira, é essa capacidade de ser um conciliador nacional", conta Baía ao DN. "Ele afastou-se um pouco da esquerda do PT [Partidos dos Trabalhadores], para ser centro." E o Brasil nunca teve um estadista do centro. "Lula concilia interesses antagónicos e promove os pactos políticos negociados. Com ele a democracia acontece." E com um presidente mais livre do partido, nota o cientista político Murilo Aragão, "a política brasileira aproxima-se a passos largos de um processo de americanização", à semelhança do norte-americano Franklin Delano Roosevelt, que venceu quatro eleições seguidas, mantendo--se na Casa Branca entre 1933 e 1945, proeza nunca mais repetida em Washington. Além de "conciliador nacional", Lula é o mediador da América Latina. Portanto, também o pode ser num contexto internacional e Barack Obama sabe-o.
Essa imagem de um Lula carismático chegou a seduzir o realizador João Moreira Salles no documentário Entreatos, sobre a corrida às eleições de 2006. Ele disse que teve de se afastar para conseguir alguma isenção. Lula também cativou a brasileira Ana Schneider, consultora ambiental. Arrependeu-se do voto. "Com tanta corrupção nestes últimos anos, é uma vergonha." Aliás, foi essa "cegueira" de Lula que a revista britânica The Economist criticou esta semana: a "capacidade de fechar os olhos ao escândalo quando lhe convém". Ao mesmo tempo que protege os políticos, ele pede aos órgãos que "investiguem", mas isso, conta Baía, reforça a imagem de conciliador intocável, com 80% de aceitação.
Quando pressionado com escândalos, Lula diz simplesmente: "Eu não sabia", que é aliás uma característica do "lulismo", isto é, o modo de governação do estadista brasileiro.
E, afinal o que é que Lula tem? Baía arrisca: "Um pragmatismo como ninguém."
Em seis anos de Presidência do Brasil, Lula da Silva continua com uma imagem intocável, um apoio popular maioritário, imunidade contra sucessivos escândalos e acaba até de arrecadar o Prémio UNESCO de embaixador da paz. Nunca o Brasil teve um presidente assim
Quando, em Abril deste ano, o Presidente norte-americano, Barack Obama disse, num círculo restrito de líderes mundiais, que Lula da Silva "é o político mais popular da Terra", seguido de um gracejar descontraído: "Esse é o homem! Adoro-o!", o Presidente do Brasil, apesar de tímido como uma criança bem-comportada, sabia que o elogio, dito assim no pódio da elite de estadistas internacionais, significava que tinha entrado para o clube restrito dos políticos mais influentes do mundo.
Não é por acaso: Lula foi o primeiro chefe de Estado a encontrar-se com Obama, então ainda Presidente recém-eleito dos Estados Unidos. Há poucos dias, vimo-lo a entregar uma camisola da selecção brasileira de futebol ao homólogo norte-americano e Obama pediu-lhe que o ajudasse a mediar o conflito com o Irão. Agora a UNESCO acaba de lhe entregar o prestigiado prémio de embaixador da paz mundial, o Félix Houphouët-Boigny (caixa).
O que mais surpreende os cientistas políticos é que, no sexto ano de mandato como Presidência da República, a imagem de Lula já deveria ter sofrido "desgaste". Pelo contrário. "Lula, quando faz certo, acerta, quando não faz nada, também acerta, e quando faz algo errado, sai intocável", analisa o cientista político Paulo Baía, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
"Para a maioria da população, ele é uma pessoa generosa que apoia até os políticos em más alturas, como no caso da crise no Senado", diz. Nas sondagens de Baía, ficou "evidente que as pessoas se identificam com ele", como se espelhasse os desejos e as frustrações de todos, por isso não o recriminam. Sem diploma universitário, ex-metalúrgico e ex- -sindicalista, Lula dá erros de português, faz metáforas com o futebol e passou fome. "Coisas que só pobre entende", disse Lula na campanha de 2006, quando discursava no interior de São Paulo.
"A maior transformação que o Presidente Lula trouxe para o Brasil, e que o faz ter ainda uma aceitação incrível na sociedade brasileira, é essa capacidade de ser um conciliador nacional", conta Baía ao DN. "Ele afastou-se um pouco da esquerda do PT [Partidos dos Trabalhadores], para ser centro." E o Brasil nunca teve um estadista do centro. "Lula concilia interesses antagónicos e promove os pactos políticos negociados. Com ele a democracia acontece." E com um presidente mais livre do partido, nota o cientista político Murilo Aragão, "a política brasileira aproxima-se a passos largos de um processo de americanização", à semelhança do norte-americano Franklin Delano Roosevelt, que venceu quatro eleições seguidas, mantendo--se na Casa Branca entre 1933 e 1945, proeza nunca mais repetida em Washington. Além de "conciliador nacional", Lula é o mediador da América Latina. Portanto, também o pode ser num contexto internacional e Barack Obama sabe-o.
Essa imagem de um Lula carismático chegou a seduzir o realizador João Moreira Salles no documentário Entreatos, sobre a corrida às eleições de 2006. Ele disse que teve de se afastar para conseguir alguma isenção. Lula também cativou a brasileira Ana Schneider, consultora ambiental. Arrependeu-se do voto. "Com tanta corrupção nestes últimos anos, é uma vergonha." Aliás, foi essa "cegueira" de Lula que a revista britânica The Economist criticou esta semana: a "capacidade de fechar os olhos ao escândalo quando lhe convém". Ao mesmo tempo que protege os políticos, ele pede aos órgãos que "investiguem", mas isso, conta Baía, reforça a imagem de conciliador intocável, com 80% de aceitação.
Quando pressionado com escândalos, Lula diz simplesmente: "Eu não sabia", que é aliás uma característica do "lulismo", isto é, o modo de governação do estadista brasileiro.
E, afinal o que é que Lula tem? Baía arrisca: "Um pragmatismo como ninguém."
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