Plutarco ensina, em pequeno tratado, como tirar vantagem do inimigo – mas não chega a aconselhar que se faça do inimigo um companheiro. É mais fácil castigar o amigo que se torna inimigo, do que perdoar a ignomínia e a infâmia dos inimigos velhos. Castruccio Castracani, o grande condottiere toscano do século 13, foi admoestado por ter mandado matar um velho amigo. Conforme conta Maquiavel, retrucou, afirmando que não mandara executar um velho amigo, e, sim, o inimigo novo.
É provável que o presidente Lula, senhor da mais surpreendente biografia de nossa história política, se sinta ungido do direito de, vitorioso, tudo perdoar a seus inimigos, velhos e novos. Ao empolgar a classe operária de São Paulo, afastando-a da dúvida entre o peleguismo clássico e a liderança dos comunistas, já fizera a sua revolução pessoal. Tudo o que veio em seguida – mesmo as derrotas sofridas – se acrescentou a seu patrimônio existencial. Há, portanto, uma explicação para a sua conduta, tanto com relação ao professor Mangabeira Unger, que pediu seu impeachment, quanto com respeito ao senador Collor de Mello que, em 1989, cometeu a indignidade de levar à televisão, no momento que antecedia as eleições, uma pobre e ressentida mulher. A Mangabeira, ele retribuiu o opróbrio com uma pasta ministerial. Collor foi abraçado pelo presidente anteontem em Alagoas. Embora Lula tenha sido econômico no elogio ao comportamento de Collor no Congresso, houve certo mal-estar entre os admiradores do presidente. Esses gestos podem ser vistos como virtude política, mas não são assim entendidos pelas pessoas comuns, sobretudo os trabalhadores mais humildes, que têm sobre o assunto posição muito firme, para não dizer intransigente. Até hoje, muitos dos que assistiram à cena patética pela televisão, com o depoimento comprado daquela senhora, sentem-se pessoalmente atingidos pelo golpe traiçoeiro.
A nossa cultura política positiva aprova os pactos entre adversários nos momentos críticos, como ocorreu na tentativa de se formar, com Juscelino, Lacerda, Jango e Brizola, frente única contra a ditadura. Os pactuantes eram grandes líderes políticos, cada um deles com suas razões e ideias, e o objetivo comum de combater o governo militar. Nos meses finais do governo Figueiredo, outro pacto se armou em torno de Tancredo, sob o mesmo interesse de reconstrução da ordem constitucional. Nas articulações de 1983 e 1984, a necessidade comum buscou o líder natural, que era o governador de Minas. Hoje, a situação é outra. Lula se encontra no poder e no auge de sua popularidade.
Ocorre que a mediocridade da oposição obriga o presidente a descer de seu nível, a fim de assegurar a governabilidade do país na véspera de dificuldades que podemos pressentir. Ainda que o Congresso se encontre desmoralizado, o presidente necessita de maioria parlamentar a fim de executar os seus projetos de governo. A situação é ainda mais grave, diante da deliberada intenção de desestabilizar o país, mediante a CPI da Petrobras.
De acordo com observadores bem informados, conviria a Lula deixar, no momento, sua preocupação com o processo eleitoral, e concentrar seus esforços na administração da crise ética. Ele já manifestou sua vontade de que se reúna assembleia nacional constituinte, destinada a realizar a ampla reforma política que a nação reclama, a fim de dar legitimidade ao Estado. Quando se fala em reforma política, espera-se que ela elimine a nefasta influência do poder econômico, que financia as campanhas eleitorais, subsidia os partidos nos intervalos dos pleitos, em troca de grandes negócios com o Estado. O sistema financeiro é o grande beneficiário da situação atual.
Fonte: Jornal do Brasil
É provável que o presidente Lula, senhor da mais surpreendente biografia de nossa história política, se sinta ungido do direito de, vitorioso, tudo perdoar a seus inimigos, velhos e novos. Ao empolgar a classe operária de São Paulo, afastando-a da dúvida entre o peleguismo clássico e a liderança dos comunistas, já fizera a sua revolução pessoal. Tudo o que veio em seguida – mesmo as derrotas sofridas – se acrescentou a seu patrimônio existencial. Há, portanto, uma explicação para a sua conduta, tanto com relação ao professor Mangabeira Unger, que pediu seu impeachment, quanto com respeito ao senador Collor de Mello que, em 1989, cometeu a indignidade de levar à televisão, no momento que antecedia as eleições, uma pobre e ressentida mulher. A Mangabeira, ele retribuiu o opróbrio com uma pasta ministerial. Collor foi abraçado pelo presidente anteontem em Alagoas. Embora Lula tenha sido econômico no elogio ao comportamento de Collor no Congresso, houve certo mal-estar entre os admiradores do presidente. Esses gestos podem ser vistos como virtude política, mas não são assim entendidos pelas pessoas comuns, sobretudo os trabalhadores mais humildes, que têm sobre o assunto posição muito firme, para não dizer intransigente. Até hoje, muitos dos que assistiram à cena patética pela televisão, com o depoimento comprado daquela senhora, sentem-se pessoalmente atingidos pelo golpe traiçoeiro.
A nossa cultura política positiva aprova os pactos entre adversários nos momentos críticos, como ocorreu na tentativa de se formar, com Juscelino, Lacerda, Jango e Brizola, frente única contra a ditadura. Os pactuantes eram grandes líderes políticos, cada um deles com suas razões e ideias, e o objetivo comum de combater o governo militar. Nos meses finais do governo Figueiredo, outro pacto se armou em torno de Tancredo, sob o mesmo interesse de reconstrução da ordem constitucional. Nas articulações de 1983 e 1984, a necessidade comum buscou o líder natural, que era o governador de Minas. Hoje, a situação é outra. Lula se encontra no poder e no auge de sua popularidade.
Ocorre que a mediocridade da oposição obriga o presidente a descer de seu nível, a fim de assegurar a governabilidade do país na véspera de dificuldades que podemos pressentir. Ainda que o Congresso se encontre desmoralizado, o presidente necessita de maioria parlamentar a fim de executar os seus projetos de governo. A situação é ainda mais grave, diante da deliberada intenção de desestabilizar o país, mediante a CPI da Petrobras.
De acordo com observadores bem informados, conviria a Lula deixar, no momento, sua preocupação com o processo eleitoral, e concentrar seus esforços na administração da crise ética. Ele já manifestou sua vontade de que se reúna assembleia nacional constituinte, destinada a realizar a ampla reforma política que a nação reclama, a fim de dar legitimidade ao Estado. Quando se fala em reforma política, espera-se que ela elimine a nefasta influência do poder econômico, que financia as campanhas eleitorais, subsidia os partidos nos intervalos dos pleitos, em troca de grandes negócios com o Estado. O sistema financeiro é o grande beneficiário da situação atual.
Fonte: Jornal do Brasil
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