O ministro da Fazenda, Guido Mantega, 60 anos, tem mais horror de rótulos do que de recessão. A atual, diz ele, está sendo vencida pelo Brasil justamente porque a política econômica não é mais um cabo de guerra entre correntes de pensamento discordantes: "Essa discussão sobre se determinada medida é ortodoxa ou heterodoxa acaba sendo bobagem. Você tem de tomar as medidas que são mais eficientes para o país naquele momento – e ponto". Como um bom petista histórico, Mantega acredita que na política os conceitos de esquerda e direita continuam tendo validade. Mas em economia só atrapalham – pelo menos para quem tem a missão de formular políticas econômicas. Satisfeito com os resultados de seu pragmatismo, ele falou ao "ESGOTO VEJA".
Quando o senhor discutia as ideias econômicas do PT nos anos 80, seria levado a sério alguém que dissesse que a verdadeira revolução brasileira viria pela estabilidade econômica e pela criação de uma nova classe média?
Seria uma surpresa ainda maior se essa pessoa dissesse que isso ocorreria em um governo do PT. O que importa mesmo é termos conseguido atingir nossos objetivos históricos. Eles nunca mudaram. Sempre foram elevar a qualidade de vida de todos os brasileiros, em especial daqueles com maiores carências, fortalecer a democracia, modernizar ainda mais a economia, tornar o Brasil um país menos dependente, menos vulnerável e fortemente respeitado no exterior. Nossa passagem pelo governo e a maneira como enfrentamos as crises externas e internas me permitem dizer o que todo mundo repete lá fora: para o Brasil o futuro, finalmente, chegou. O sinal mais evidente disso é estarmos caminhando para mais uma eleição presidencial e, desta vez, sem dar chance aos especuladores de explorar riscos reais e imaginários como no passado. Espero que saia vencedora nossa candidata, a ministra Dilma Rousseff, mas, seja quem for o novo presidente eleito em 2010, ele não terá como mudar radicalmente os rumos do país. Não vai desfigurar a política econômica, tampouco a social. Se relaxar no combate à inflação, estará em apuros. Se acabar com o Bolsa Família, correrá o risco de ser deposto.
Em 2002, o mercado se apavorou com Lula e o risco-país bateu em 2 400 pontos, um recorde. A desconfiança foi exagerada?
Isso foi em outubro de 2002. Lula liderava as pesquisas e havia um acúmulo de percepções negativas sobre como se comportaria a esquerda brasileira, que pela primeira vez chegava ao poder em nível federal. Muita gente falava que haveria quebra de contratos, de princípios, e que nós não iríamos respeitar as instituições. Somava-se a isso a própria fragilidade da economia brasileira naquele momento. O nível de reservas internacionais estava muito baixo, os investimentos estrangeiros diretos tinham despencado e, para piorar, o país ainda sentia os impactos de uma grave crise de energia. Então, por mais que reafirmássemos nosso compromisso com a responsabilidade na condução da economia, as percepções negativas se mantiveram. Elas só se dissiparam mesmo quando começamos a governar e não quebramos um contrato sequer, adotamos uma política fiscal mais vigorosa do que a do governo anterior, reforçamos a luta contra a inflação e continuamos arrumando o país.
Continuaram...? Mas, então, o mundo não começou no dia da posse do Lula?
Ironias à parte, fomos nós que demos a grande virada no país ao incentivar o crescimento. Demos a virada por nossos próprios méritos, principalmente pelo fato de o presidente Lula ser um político conciliador e avesso a rupturas e por sabermos aproveitar a excelente situação da economia externa que vigorou até o ano passado. Mas é óbvio para qualquer um que é obra também de governos passados o fato de dispormos atualmente da democracia mais funcional e das instituições mais avançadas entre todos os principais países emergentes, chamados de Brics por alguns. Nós construímos em quinze, vinte anos instituições sólidas no país. Hoje não se aceita mais que as políticas públicas sejam feitas sem ouvir os trabalhadores e sem que elas visem a diminuir a pobreza e a concentração de renda. O Brasil era um país vergonhoso. Agora há um consenso em torno de pontos vitais, e, repito, seja qual for o próximo governo, ele vai continuar acumulando reservas, diminuindo a vulnerabilidade externa, vai manter a inflação sob controle e dar continuidade aos programas sociais. As diferenças entre um e outro candidato sempre existirão, mas dificilmente elas serão tão profundas a ponto de tirar o país do caminho que está trilhando com tanto sucesso.
O Brasil passou com louvor pelo teste político de ser governado pela esquerda. O senhor diria que a crise financeira mundial foi a grande prova para a economia e também fomos aprovados?
Quem disser que esta crise não foi o maior "stress test" do século estará mentindo ou desinformado. Foi um teste brutal, e o Brasil está se saindo muito bem até agora. Saiu-se bem em relação a si mesmo, pois provações bem menos vigorosas no passado nos deixaram de joelhos. Saiu-se bem também em comparação com os demais países emergentes e em comparação com as economias mais maduras. Para completar o quadro positivo, houve um reconhecimento quase universal do nível de preparo do Brasil para enfrentar situações internacionais adversas. Isso é um prenúncio de que, quando a crise amainar ainda mais, começará a haver uma sobra de capital, uma liquidez enorme no mundo, que vai procurar um lugar seguro e promissor para investir. Posso afirmar sem medo de errar que uma porção substancial desse capital virá para o Brasil.
Com relação à crise mundial, pode-se dizer que ela está no fim, no começo do fim ou apenas no fim do começo?
A fase mais aguda da crise já foi deixada para trás. Isso é consenso mesmo nos países avançados que foram o epicentro de tudo e agora começam a experimentar uma melhoria gradual. Mas talvez seja tarde demais para salvar 2009 da recessão. Ela será forte em quase todos os países, com raras exceções. O Brasil é uma dessas exceções. Nossa economia vai se sair melhor do que as da Inglaterra, da União Europeia, do Japão e dos Estados Unidos. Esses países e regiões estão prevendo variações do PIB fortemente negativas. O Brasil não apresentará o mesmo resultado brilhante dos dois anos passados, mas os dados mostram que podemos chegar ao fim do ano com um resultado mais próximo do positivo do que do negativo.
Fonte: O Esgoto
Quando o senhor discutia as ideias econômicas do PT nos anos 80, seria levado a sério alguém que dissesse que a verdadeira revolução brasileira viria pela estabilidade econômica e pela criação de uma nova classe média?
Seria uma surpresa ainda maior se essa pessoa dissesse que isso ocorreria em um governo do PT. O que importa mesmo é termos conseguido atingir nossos objetivos históricos. Eles nunca mudaram. Sempre foram elevar a qualidade de vida de todos os brasileiros, em especial daqueles com maiores carências, fortalecer a democracia, modernizar ainda mais a economia, tornar o Brasil um país menos dependente, menos vulnerável e fortemente respeitado no exterior. Nossa passagem pelo governo e a maneira como enfrentamos as crises externas e internas me permitem dizer o que todo mundo repete lá fora: para o Brasil o futuro, finalmente, chegou. O sinal mais evidente disso é estarmos caminhando para mais uma eleição presidencial e, desta vez, sem dar chance aos especuladores de explorar riscos reais e imaginários como no passado. Espero que saia vencedora nossa candidata, a ministra Dilma Rousseff, mas, seja quem for o novo presidente eleito em 2010, ele não terá como mudar radicalmente os rumos do país. Não vai desfigurar a política econômica, tampouco a social. Se relaxar no combate à inflação, estará em apuros. Se acabar com o Bolsa Família, correrá o risco de ser deposto.
Em 2002, o mercado se apavorou com Lula e o risco-país bateu em 2 400 pontos, um recorde. A desconfiança foi exagerada?
Isso foi em outubro de 2002. Lula liderava as pesquisas e havia um acúmulo de percepções negativas sobre como se comportaria a esquerda brasileira, que pela primeira vez chegava ao poder em nível federal. Muita gente falava que haveria quebra de contratos, de princípios, e que nós não iríamos respeitar as instituições. Somava-se a isso a própria fragilidade da economia brasileira naquele momento. O nível de reservas internacionais estava muito baixo, os investimentos estrangeiros diretos tinham despencado e, para piorar, o país ainda sentia os impactos de uma grave crise de energia. Então, por mais que reafirmássemos nosso compromisso com a responsabilidade na condução da economia, as percepções negativas se mantiveram. Elas só se dissiparam mesmo quando começamos a governar e não quebramos um contrato sequer, adotamos uma política fiscal mais vigorosa do que a do governo anterior, reforçamos a luta contra a inflação e continuamos arrumando o país.
Continuaram...? Mas, então, o mundo não começou no dia da posse do Lula?
Ironias à parte, fomos nós que demos a grande virada no país ao incentivar o crescimento. Demos a virada por nossos próprios méritos, principalmente pelo fato de o presidente Lula ser um político conciliador e avesso a rupturas e por sabermos aproveitar a excelente situação da economia externa que vigorou até o ano passado. Mas é óbvio para qualquer um que é obra também de governos passados o fato de dispormos atualmente da democracia mais funcional e das instituições mais avançadas entre todos os principais países emergentes, chamados de Brics por alguns. Nós construímos em quinze, vinte anos instituições sólidas no país. Hoje não se aceita mais que as políticas públicas sejam feitas sem ouvir os trabalhadores e sem que elas visem a diminuir a pobreza e a concentração de renda. O Brasil era um país vergonhoso. Agora há um consenso em torno de pontos vitais, e, repito, seja qual for o próximo governo, ele vai continuar acumulando reservas, diminuindo a vulnerabilidade externa, vai manter a inflação sob controle e dar continuidade aos programas sociais. As diferenças entre um e outro candidato sempre existirão, mas dificilmente elas serão tão profundas a ponto de tirar o país do caminho que está trilhando com tanto sucesso.
O Brasil passou com louvor pelo teste político de ser governado pela esquerda. O senhor diria que a crise financeira mundial foi a grande prova para a economia e também fomos aprovados?
Quem disser que esta crise não foi o maior "stress test" do século estará mentindo ou desinformado. Foi um teste brutal, e o Brasil está se saindo muito bem até agora. Saiu-se bem em relação a si mesmo, pois provações bem menos vigorosas no passado nos deixaram de joelhos. Saiu-se bem também em comparação com os demais países emergentes e em comparação com as economias mais maduras. Para completar o quadro positivo, houve um reconhecimento quase universal do nível de preparo do Brasil para enfrentar situações internacionais adversas. Isso é um prenúncio de que, quando a crise amainar ainda mais, começará a haver uma sobra de capital, uma liquidez enorme no mundo, que vai procurar um lugar seguro e promissor para investir. Posso afirmar sem medo de errar que uma porção substancial desse capital virá para o Brasil.
Com relação à crise mundial, pode-se dizer que ela está no fim, no começo do fim ou apenas no fim do começo?
A fase mais aguda da crise já foi deixada para trás. Isso é consenso mesmo nos países avançados que foram o epicentro de tudo e agora começam a experimentar uma melhoria gradual. Mas talvez seja tarde demais para salvar 2009 da recessão. Ela será forte em quase todos os países, com raras exceções. O Brasil é uma dessas exceções. Nossa economia vai se sair melhor do que as da Inglaterra, da União Europeia, do Japão e dos Estados Unidos. Esses países e regiões estão prevendo variações do PIB fortemente negativas. O Brasil não apresentará o mesmo resultado brilhante dos dois anos passados, mas os dados mostram que podemos chegar ao fim do ano com um resultado mais próximo do positivo do que do negativo.
Fonte: O Esgoto
Nenhum comentário:
Postar um comentário