19 maio 2009

As urnas e o povo de Lula

por CANDIDO MENDES


MAIS NOS adiantamos no ano, mais se evidencia essa realidade política inédita do Brasil de agora. Os mais de 80% do apoio presidencial continuam indenes num comando presidencial que, ao mesmo tempo, se mantém por inteiro nas regras do jogo democrático.

Inclusive é por essa fidelidade que despertou a admiração do presidente norte-americano, Barack Obama, à saída da reunião do G-20. Lula permanece nas regras do jogo quando, num acenar de mãos, poderia alterar as normas constitucionais, na certeza da torrencial aprovação popular.

Esse reconhecimento lá fora só salienta o contraste com Chávez e a triste consolidação da presidência perpétua do venezuelano, que só se reforça, mais e mais, com a violência crescente do regime, na eliminação paulatina dos adversários.

O potencial político de nosso presidente continua assentado na remuneração simbólica do "Lula-lá" e da gratificação inédita que tem todo brasileiro, saído do nada, nesses últimos anos, ao se reconhecer no topo do Planalto.

Não avaliamos ainda o perdurar deste trunfo do regime inédito, tanto o país dos marginalizados marcha para a crescente mobilidade social.

O importante, entretanto, é o quanto, ao lado do prêmio da cabeça, a mudança vai à pele do Brasil de fundo e se experimenta no sucesso crescente do PAC.

Mal reconhecemos, ainda, os múltiplos impactos sociais e políticos do Bolsa Família, que tornam a mudança brasileira tão distinta do progressismo social-democrático, dos conta-gotas das distribuições de renda e da contabilização da carteira profissional assinada. Resulta da entrada direta na educação básica, de par com a nova malha nacional da saúde, independentemente de uma relação fixa de emprego.

A melhoria do orçamento doméstico do beneficiário gera, por sua vez, novas oportunidades de trabalho com o sistema produtivo e nas suas flutuações amplas de mercado.

Falta-nos avaliar o impacto da lavoura familiar dentro do PAC, em novo assento do país de fundo ao seu interior, modificando os afluxos migratórios das nossas megalópoles. De que forma o bolseiro, ciente de seus benefícios, desenvolve uma consciência reivindicatória, à margem da antiga arregimentação sindical? E qual será o seu efeito sobre os movimentos sociais do começo do governo Lula?

Como medir o confronto da lavoura familiar sobre os sem-terra, no contraponto crescente entre as políticas estritas de assentamento e esse empenho de educação e produtividade, ao lado do cultivo da terra? Ou, nela, de uma presença definida em termos de aumento de produção racionalizada, diante dos antigos mercados de subsistência e do agronegócio, que desponta ao mesmo tempo que o Bolsa Família?

Deparamos, em todos esses marcos, consciências reivindicantes a repercutir, a seu tempo, na colossal vaga mobilizatória do "povo de Lula". Este não se disciplinará por partidos nem pelas velhas formações sindicais da visão clássica da dita melhoria da prosperidade nacional.

O desenvolvimento sustentado passa, também, por etapas inéditas em que se decanta a percepção dessa conquista. O sucesso do governo Lula reside em ter antecipado a visão da mudança e para onde ela acena, e o presidente é o exclusivo protagonista, para transpô-lo do carisma pessoal para o programa e a sensibilização nacional pelo PAC.

São etapas, lances, conquistas ainda tenras sobre a promessa global. Mas esse sucesso tem hoje, antes de tudo, um pedagogo e um prazo curto para trazer ao estuário comum o povo de Lula. Esse avanço ultrapassa a pessoa e se encarna no conteúdo de programa, no rumo à frente.

Qualquer candidatura pode empolgar, ganhar a certeza da travessia. A mudança tem as surpresas da nova maturidade do Brasil que desperta, a partir da escolha de 2002, mais que um voto, uma opção. E o povo de Lula sabe, de vez, o que não quer.


CANDIDO MENDES , 80, membro da Academia Brasileira de Letras e da Comissão de Justiça e Paz, é presidente do "senior Board" do Conselho Internacional de Ciências Sociais da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e secretário-geral da Academia da Latinidade.

Um comentário:

zequinha sp disse...

LULA é um homem a frente do nosso tempo!
Tenho defendido isso há tempos.
O Brasil foi colocado num patamar que irá demorar muitos anos para a 'ficha cair' e fazermos o que se faz necessário neste momento e não estamos fazendo.
Ele abriu mercados no exterior, criou consumo interno, abriu credito a milhões de brasileiros etc, etc,... Nem as empresas, nem os estados nem os municipios estavam preparados. Nem nós brasileiros estamos a altura deste homem. Ainda pensamos pequeno.
A America Latina sonha em ter seu LULA mas só encontraram apenas Evos, Chaves, Lugos... cada qual com sua pequenez...
um abraço
zequinha sp