12 fevereiro 2009

Nós brasileiras no exterior

Antes de ontem, a brasileira Paula Oliveira, de 26 anos, foi atacada na Suíça por três neonazistas. O que ela representa no inconsciente desses três marginais? Sendo branca podia perfeitamente ser confundida com uma europeia. Mas o que a denunciou? Paula cometeu o crime de falar português ao telefone com a mãe.

Somos estigmatizadas na Europa independente do trabalho que fazemos? Somos. O estigma é praticado somente pelos europeus? Não. O maior estigma que sofremos é praticado pelos próprios brasileiros.

Reporta-me-ei a três casos. Os dois primeiros aconteceram comigo. E ambos no seleto blog do Noblat.

Logo que a campanha contra o governo Lula foi deflagrada na mídia e em especial no blog do citado jornalista, em 2005-6, nos tempos em que eu ainda podia postar entre seus comentaristas, revelei por acaso viver na Alemanha. Sabe do que me tacharam? De prostituta, de table dancer e de faxineira.

Vamos ao segundo caso. Critiquei a postura do Noblat em incentivar as pessoas a vaiarem o Presidente Lula. Uma de suas colaboradoras, a senhora Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa, escreveu dois comentários contra mim:

„- 15/11/2008 - 17:28
Não quero pensar de novo o que pensei a respeito dessa brasileira perdida na Alemanha. Faz mal pensar o que pensei.

A Internet aceita tudo. Podemos dizer aqui que temos doutorados e mestrados, que nascemos em berço de ouro, que nascemos paupérrimos, que somos azuis, amarelos ou verdes, que moramos em Paris ou em São Bernardo do Campo. Assim como o papel, a telinha aceita tudo. Nós não sabemos, portanto, exatamente quem é essa mulher.

(…) Tenho motivos para ter até medo de alguns. Dessa imigrante, inclusive. Estará ela legalmente onde diz estar? Será casada com alemão? Faz o tipo?“


No outro comentário me chamava erroneamente de 'blasilianish'. O certo seria 'brasilianerin'.

De qualquer maneira, a intenção dessa senhora foi de me desqualificar.

Vamos ao terceiro caso. Recentemente, um senador italiano falou que nós não éramos conhecidos pelo Judiciário mas pelas dançarinas (prostitutas).

O que faz essas pessoas desqualificarem nossas instituições e nossas mulheres?

Nós mesmos fazemos isso conosco. Nós não nos respeitamos.

Moro na Alemanha há 17 anos. Sou cidadã alemã. Se algum dia conheci uma prostituta brasileira, não percebi. Também não estou interessada em julgar os outros por suas profissões.

A imprensa brasileira nos desrespeita. Os jornalistas nos desrespeitam. A senhora Rubinato nos desrespeita, e, o pior de tudo, o Supremo Tribunal Federal nos desrespeita quando joga o jogo da Itália em relação ao Battisti.

Por que os outros devem nos respeitar se nem nós mesmo o fazemos?

A brasileira na Suíça pagou o alto preço da desqualificação sistemática que nós todas sofremos. Desqualificação essa que começa dentro de nossa própria casa, o Brasil.

Não considero a Paula Oliveira melhor ou pior do que qualquer outra brasileira imigrante. Todas são mulheres e merecem ser respeitadas independente do que fazem.

Enquanto uma dentre as milhares de Rubinatos se expressar negativamente sobre qualquer imigrante brasileira, nós, me incluo, sofreremos o estigma da prostituição, da bandidagem, da table dancer e da faxineira.

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