Mauro Santayana
Os Estados Unidos tomam medidas para a proteção de sua indústria, e Obama recomenda não comprar produtos estrangeiros. Na Grã-Bretanha, trabalhadores protestam contra a presença de operários da própria União Européia em obras temporárias. O Irã coloca em órbita um satélite, e mostra sua capacidade de lançar mísseis de longo alcance. O nacionalismo, que nunca deixou de existir, reergue suas bandeiras.
É hora de o Brasil mobilizar todos os esforços, a fim de assegurar sua autonomia política e proteger os cidadãos. Poucos países do mundo contam com as nossas vantagens: imenso mercado interno potencial, capaz de suportar a demanda necessária ao desenvolvimento; maior área agriculturável do mundo; sol, água e energia em abundância; razoável conhecimento tecnológico, e uma das populações culturalmente mais homogêneas do planeta.
Em setembro de 1942, logo depois de ter declarado guerra ao Eixo, Getúlio criou a Coordenação de Mobilização Econômica e a entregou aos cuidados de João Alberto Lins de Barros. João Alberto, então com 45 anos, já era senhor de forte biografia, como um dos tenentes que haviam despertado para as graves questões sociais brasileiras nos anos 20. Comandante de um dos destacamentos da Coluna Prestes, articulador e combatente na Revolução de 30, interventor em São Paulo, embaixador no Canadá, João Alberto era o homem certo para administrar a economia de guerra. Ao mesmo tempo em que tomava medidas duras, destinadas a assegurar o abastecimento da população, entre elas a do racionamento, a Coordenação de João Alberto mobilizava a opinião pública, contando com auxiliares honrados, como o jornalista Mário Martins, que se destacaria depois no Parlamento.
A eficiência de João Alberto levou Vargas a encomendar-lhe, no ano seguinte, outra tarefa importantíssima, a de conquistar e povoar o Centro-Oeste, na direção da Fundação do Brasil Central, que o presidente criara depois de sobrevoar parte do Vale do Alto Araguaia. A Fundação organizou várias expedições e promoveu a ocupação da região, formando mais de 40 núcleos de povoamento, que se transformariam em cidades, mediante a distribuição de pequenas glebas, financiamento aos colonos e abertura de estradas. É hora de realizar tarefa semelhante, em espaços ainda disponíveis, e na Amazônia Setentrional, dentro das condições necessárias de preservação da floresta.
A abertura do país aos estrangeiros, iniciada por Fernando Collor, e ampliada por Fernando Henrique Cardoso, nos custou caro. Ambos partiam da idéia, equivocada, de que não dispúnhamos de condições para retornar ao projeto de desenvolvimento nacional autônomo – iniciado por Vargas e continuado por Juscelino. Desnacionalizaram a indústria brasileira, privatizaram grandes empresas estatais que haviam sido criadas por Getúlio em seus dois governos, consolidadas durante os anos 50, e responsáveis pelas pesquisas tecnológicas de ponta. Sem apelo à xenofobia – mesmo porque temos sido, nos últimos tempos, vítimas desse sentimento odioso – precisamos mobilizar todos os esforços internos, a fim de acelerar o desenvolvimento. No relacionamento com o mundo, é bom adotar a justa reciprocidade, seja nas relações políticas, seja nas relações econômicas e comerciais. Não podemos oferecer, nem pedir, vantagens em troca de submissão política.
As pesquisas de opinião confirmaram, mais uma vez, a popularidade do presidente Lula. O bom governo, no entanto, não é apenas aquele que faz mas, sobretudo, o que nos convence a fazer. No discurso que faria ao tomar posse, ao tratar do projeto nacional de desenvolvimento, Tancredo conclamou o povo a mobilizar-se: "Só farei o que fizermos juntos".
O mundo se encontra diante de uma situação de guerra. Mesmo que não estejamos sob o fogo direto dos canhões, a prudência recomenda agir como se isso estivesse ocorrendo. Enfrentamos uma guerra econômica e tecnológica, e é ilusório imaginar que os países mais ricos serão solidários conosco. Todos os países cuidarão de seus próprios interesses, como fazem os Estados Unidos. Isso nos exige investir pesadamente em infra-estrutura, que tem efeito multiplicador sobre a economia em geral. Precisamos de um João Alberto, para orientar esses esforços, mas ele dificilmente pode ser encontrado entre as personalidades evidentes da República. Será mais fácil buscá-lo no resto do imenso e rico território humano de que dispomos.
Fonte: JB
Os Estados Unidos tomam medidas para a proteção de sua indústria, e Obama recomenda não comprar produtos estrangeiros. Na Grã-Bretanha, trabalhadores protestam contra a presença de operários da própria União Européia em obras temporárias. O Irã coloca em órbita um satélite, e mostra sua capacidade de lançar mísseis de longo alcance. O nacionalismo, que nunca deixou de existir, reergue suas bandeiras.
É hora de o Brasil mobilizar todos os esforços, a fim de assegurar sua autonomia política e proteger os cidadãos. Poucos países do mundo contam com as nossas vantagens: imenso mercado interno potencial, capaz de suportar a demanda necessária ao desenvolvimento; maior área agriculturável do mundo; sol, água e energia em abundância; razoável conhecimento tecnológico, e uma das populações culturalmente mais homogêneas do planeta.
Em setembro de 1942, logo depois de ter declarado guerra ao Eixo, Getúlio criou a Coordenação de Mobilização Econômica e a entregou aos cuidados de João Alberto Lins de Barros. João Alberto, então com 45 anos, já era senhor de forte biografia, como um dos tenentes que haviam despertado para as graves questões sociais brasileiras nos anos 20. Comandante de um dos destacamentos da Coluna Prestes, articulador e combatente na Revolução de 30, interventor em São Paulo, embaixador no Canadá, João Alberto era o homem certo para administrar a economia de guerra. Ao mesmo tempo em que tomava medidas duras, destinadas a assegurar o abastecimento da população, entre elas a do racionamento, a Coordenação de João Alberto mobilizava a opinião pública, contando com auxiliares honrados, como o jornalista Mário Martins, que se destacaria depois no Parlamento.
A eficiência de João Alberto levou Vargas a encomendar-lhe, no ano seguinte, outra tarefa importantíssima, a de conquistar e povoar o Centro-Oeste, na direção da Fundação do Brasil Central, que o presidente criara depois de sobrevoar parte do Vale do Alto Araguaia. A Fundação organizou várias expedições e promoveu a ocupação da região, formando mais de 40 núcleos de povoamento, que se transformariam em cidades, mediante a distribuição de pequenas glebas, financiamento aos colonos e abertura de estradas. É hora de realizar tarefa semelhante, em espaços ainda disponíveis, e na Amazônia Setentrional, dentro das condições necessárias de preservação da floresta.
A abertura do país aos estrangeiros, iniciada por Fernando Collor, e ampliada por Fernando Henrique Cardoso, nos custou caro. Ambos partiam da idéia, equivocada, de que não dispúnhamos de condições para retornar ao projeto de desenvolvimento nacional autônomo – iniciado por Vargas e continuado por Juscelino. Desnacionalizaram a indústria brasileira, privatizaram grandes empresas estatais que haviam sido criadas por Getúlio em seus dois governos, consolidadas durante os anos 50, e responsáveis pelas pesquisas tecnológicas de ponta. Sem apelo à xenofobia – mesmo porque temos sido, nos últimos tempos, vítimas desse sentimento odioso – precisamos mobilizar todos os esforços internos, a fim de acelerar o desenvolvimento. No relacionamento com o mundo, é bom adotar a justa reciprocidade, seja nas relações políticas, seja nas relações econômicas e comerciais. Não podemos oferecer, nem pedir, vantagens em troca de submissão política.
As pesquisas de opinião confirmaram, mais uma vez, a popularidade do presidente Lula. O bom governo, no entanto, não é apenas aquele que faz mas, sobretudo, o que nos convence a fazer. No discurso que faria ao tomar posse, ao tratar do projeto nacional de desenvolvimento, Tancredo conclamou o povo a mobilizar-se: "Só farei o que fizermos juntos".
O mundo se encontra diante de uma situação de guerra. Mesmo que não estejamos sob o fogo direto dos canhões, a prudência recomenda agir como se isso estivesse ocorrendo. Enfrentamos uma guerra econômica e tecnológica, e é ilusório imaginar que os países mais ricos serão solidários conosco. Todos os países cuidarão de seus próprios interesses, como fazem os Estados Unidos. Isso nos exige investir pesadamente em infra-estrutura, que tem efeito multiplicador sobre a economia em geral. Precisamos de um João Alberto, para orientar esses esforços, mas ele dificilmente pode ser encontrado entre as personalidades evidentes da República. Será mais fácil buscá-lo no resto do imenso e rico território humano de que dispomos.
Fonte: JB
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