20 novembro 2008

Atuação de Gilmar Mendes desmoraliza Justiça, critica deputada Luciana Genro

Terra Magazine - A senhora disse que há uma inversão de valores no país.

Luciana Genro - Inversão porque aqueles que dedicaram a sua vida ao combate à corrupção como o delegado Protógenes ou que fizeram gestos de grandeza, abriram mão de promoção, como o juiz De Sanctis, estão sendo perseguidos numa tentativa de desmoralizaçao para evitar que o senhor Daniel Dantas seja condenado. A própria defesa do Dantas está se apoiando nessas ações de perseguição contra o delegado para pedir a nulidade das provas e inviabilizar a prisão do Dantas.

A senhora acha que há, de fato, uma tentativa de constranger o delegado?

Não tenho dúvida. O inquérito administrativo e a busca e apreensão na casa dele foram ações para tentar desmoralizar o trabalho que ele fez, quando o próprio delegado que entrou no lugar dele disse que está aprofundando as investigações, e não refazendo o inquérito, como foi insinuado inicialmente.

O que a senhora vem achando dos trabalhos realizados pela CPI dos Grampos, em meio à "inversão de valores" a que se refere?

Eu acho que a CPI dos Grampos não está contribuindo para recolocar as coisas nos seus devidos lugares. O problema do Brasil não é o excesso de grampos; o problema do Brasil é o excesso de corrupção. Todo grampo que vier a ajudar esquemas de corrupção, especialmente esse que envolve o império criminoso que foi construído pelo Daniel Dantas, é legítimo. E a CPI não está trabalhando com esse enfoque.

Como avalia a atuação do STF, com essa questão dos habeas corpus concedidos pelo ministro Gilmar Mendes?

Pra mim isso demonstra que tentáculos criminosos do Daniel Dantas também chegaram ao Supremo. É totalmente desmoralizante para a justiça ver o Daniel Dantas ser liberado em poucas horas, duas vezes, por ação do presidente do Supremo, enquanto que muitas vezes uma mãe de família é presa por roubar uma lata de leite e acaba nessas prisões imundas por meses sem conseguir conquistar um habeas corpus.

A senhora lamentou alguns dias atrás que o ministro da Justiça, Tarso Genro, tenha comprado a versão de Luiz Fernando Corrêa (diretor-geral da Polícia Federal), e disse também que a PF está sendo usada para salvar a pele do Daniel Dantas. A que a senhora atribui esse uso da PF?

Eu prefiro restringir minha manifestação em relação a isso a o que eu já disse. Eu não tenho dúvidas da honestidade do ministro da Justiça. Mas acho que ele escolheu o lado errado nessa briga, e acabou fazendo com que a PF cumpra esse papel ruim quando a PF estava cumprindo um papel extremamente positivo. E a Polícia Federal estava acumulando, nos últimos tempos, um patrimônio de credibilidade, graças ao trabalho não só do Protógenes, mas também dele (do ministro Tarso Genro) e de vários outros delegados e agentes da polícia. E essa última decisão de afastar o Protógenes e de abrir esse inquérito administrativo contra ele "desacumulam" esse patrimônio de credibilidade. Foi um equívoco muito grande que não ajuda a fortalecer a idéia de que é possível acabar com a impunidade no Brasil.

O delegado Protógenes sempre comparece aos atos de solidariade realizados pelo PSOL. Ele já demonstrou algum interesse em ingressar na vida política pelo partido?

Não, ele tem demonstrado essa afinidade porque o PSOL foi o único partido que demonstrou solidariedade e apoio a ele nesse momento. Ele tem deixado muito claro que só é candidato a uma próxima missão na Polícia Federal, e de preferência para investigar altos escalões de corrupção.

Terra Magazine

Nenhum comentário: