13 abril 2008

As guerras da mídia e o repúdio a Uribe

Argemiro Ferreira

O presidente Bush fugiu a qualquer negociação com a bancada democrata, que desde janeiro do ano passado controla as duas casas do Congresso, e tentou impor no grito a via rápida para aprovar o tratado de livre comércio com a Colômbia (do seu afilhado Álvaro Uribe). Resultado: votos até de republicanos obrigaram o pato manco da Casa Branca a engolir a própria arrogância.

O paradoxo é que no Brasil a grande mídia em geral e o jornal "O Globo" em particular - com seus desinformados "generais de redação" - teimam em apostar na aventura bélica sul-americana de Bush e Uribe, obcecados em fabricar uma nova guerra bushista. Não sei exatamente o que ganhariam com isso, até porque há três anos perdem todas as batalhas pelo impeachment de Lula.

Nosso presidente não só continua à frente do governo como o apoio a ele no país nunca foi tão esmagador. O tratado de livre comércio Bush-Uribe seria o prêmio da Casa Branca à submissão da Colômbia - único aliado incondicional que o bushismo tem na região. Mas nem o austero Richard Lugar, republicano de alto nível no Senado, digere o recorde de violações dos direitos humanos na Colômbia.

As preocupações de um senador

A Colômbia de Uribe é considerada hoje o país, em todo o mundo, onde líderes sindicais são mais perseguidos e assassinados. O senador Lugar, ex-presidente da comissão de Relações Exteriores, adoraria mais um tratado de livre comércio. O "lobby" de Bush foi atrás dele para garantir o voto, pois esse veterano parlamentar republicano tem antecedentes amplamente favoráveis a tais acordos.

Mas como registrou o analista político John Nichols, um dos jornalistas mais atentos às violações aos direitos humanos na Colômbia, Lugar reagiu: "Esse acordo enfrenta oposição dura porque muitos no Congresso acham que o governo daquele país não toma medidas para garantir a segurança dos trabalhadores". Pergunta o jornalista: "Será irracional essa convicção de Lugar?"

Na ótica desse senador, de nenhuma forma. Ele próprio explicou: "Pedi ao presidente Bush para trabalhar junto com o governo colombiano para mostrar progressos convincentes em relação às práticas trabalhistas naquele país. Sem haver provas convincentes sobre isso os significativos benefícios econômicos e políticos de um tratado de livre comércio com a Colômbia estariam ameaçados".

Tratado errado na hora errada

A manifestação de Lugar foi extremamente moderada. Ele evitou qualquer ataque mais violento ao intolerável autoritarismo do regime de Uribe, obstinado agora em ter um terceiro mandato. Na Câmara, outros parlamentares republicanos acham a mesma coisa e vão mais longe na condenação aos donos do poder em Bogotá, determinados a fazer a guerra exigida por Bush - em troca dos US$ 8,4 bilhões já recebidos dos EUA.

Foram nada menos de seis os republicanos da Câmara que se distanciaram da linha partidária - e da própria Casa Branca - para não se envolverem na promiscuidade Bush-Uribe, fechando os olhos não só aos prejuízos sofridos pelos trabalhadores do país mas ainda às denúncias de organizações de direitos humanos, ambientais e agrícolas, para as quais esse seria "o tratado errado na hora errada".

Entre os republicanos que se somaram à oposição democrata estava o candidato presidencial Ron Paul, texano de inclinações libertárias. Eles acrescentaram seus votos aos de 218 deputados oposicionistas contra o que, oficialmente, foi batizado pelo governo Bush de "Acordo de Promoção Comercial EUA-Colômbia". Adiado pelo menos por alguns meses, o acordo dificilmente voltará antes da posse do novo presidente.

Que tal o "silêncio obsequioso"?

Enquanto essas coisas aconteciam em Washington, no Brasil "O Globo" preferia esta semana voltar a incitar as Forças Armadas brasileiras para se envolverem na guerra de Uribe (e seu padrinho Bush) contra os rebeldes colombianos. Para tanto, perguntou ao ministro da Defesa, Nelson Jobim, como o Brasil responderia "a uma eventual invasão do território nacional por guerrilheiros das Farc.

Sem citar as Farc, Jobim deu a resposta óbvia a uma invasão estrangeira de nosso território: militar. Os "generais de redação" em "O Globo" permitiram-se então proclamar na manchete, em toda a extensão da página 12: "Jobim diz que Brasil enfrentaria Farc à bala". Os guerreiros de fancaria só não disseram que a resposta é para toda e qualquer invasão estrangeira do território do país.

Provocadores mediáticos obcecados em fabricar guerras, a exemplo de Hearst e Pulitzer no passado, também podem ir em frente e perguntar se o Brasil receberia bem uma invasão por tropa uribista - como aquela que, respaldada pelo bushismo, violou a fronteira e bombardeou o Equador. Antes que isso aconteça, suspeito que o mais sensato seria impor um silêncio obsequioso a todo "general de redação".

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