O DEVER DA GRANDEZA
O industrial Antonio Ermírio de Moraes, em artigo publicado ontem, reiterou a convicção popular de que Deus é brasileiro, ao registrar que a Petrobrás descobriu petróleo leve no fundo do mar, a 5 mil metros de profundidade. Deus pode ser brasileiro, mas contou com a inteligência nacional para o achado, que dobra as nossas reservas com petróleo leve - de alta cotação no mercado.
Os brasileiros são modestos em sua auto-avaliação. Grande parte de nossa classe média e de nossos intelectuais se maravilha com a inteligência e o êxito alheios, e qualifica o nosso povo como preguiçoso e caipira. Apesar das dimensões do país, e dos grandes feitos históricos de nossa formação, muitos de nós resignam-se a ver o Brasil como mero caudatário do primeiro mundo.
E quando se atrevem a romper essa avaliação, atribuem as razões do orgulho nacional à natureza, como no livro do Conde Afonso Celso. Esquecem as virtudes do povo.
Há uma tese - inspirada nos arquétipos gregos e outros mitos - que situa a passagem da adolescência à maturidade, ou seja, da submissão à liberdade, na morte dos pais. Os filhos só assumem identidade real quando suplantam - ou `matam`, na repetição simbólica da mitologia - o pai, a mãe, ou ambos.
O Brasil ainda não deixou a adolescência, ou seja, ainda não ficou livre da submissão ontológica ao colonialismo português, nem ao padrasto anglo-saxão, que interveio em nossa construção histórica , a partir do Tratado de Methuen, e continua, em sua versão ianque, a nos impedir o desenvolvimento. A cultura, quando não procedia de Lisboa, vinha da Inglaterra, dos Estados Unidos e, quase como contrabando, da França. Não foram poucos os brasileiros que tentaram pensar originalmente em nosso país, e se viram sufocados pela alienação dos poderes de fato. A literatura, quando não bebia em Eça e em Castelo Branco, sugava-se no estilo de Swift e Sterne, como no caso de Machado de Assis. Só depois da Semana da Arte Moderna é que começamos a enveredar por caminhos` próprios, com o ciclo do Nordeste e a obra excepcional de Guimarães Rosa.
Vargas foi o primeiro homem de Estado a ver o Brasil em suas dimensões reais dentro do Cenário do mundo e em suas perspectivas históricas - como resumiu, neste fim de semana, em conversa com Wilson Figueiredo e com o colunista, o embaixador, jornalista e homem público José Aparecido de Oliveira. Aparecido, ao fazer essa constatação, criticou a parcela udenista de sua geração, que fustigou Getúlio até o sacrifício de 1954. No mesmo caminho de Vargas, Juscelino ignorou o complexo de inferioridade das das classes dirigentes do País e forçou o grande salto dos anos 50. A maior herança econômica de Vargas e Juscelino, a conquista nacional da produção de energia, defendida por Jango até ser deposto, revela-se agora na pujança da Petrobrás - mesmo depois de amputada pelo neoliberalismo dos tucanos. Quando a nossa geração participou da luta pelo petróleo, seria impensável que, um dia, a empresa brasileira nascida daquela campanha, viesse a cogitar a compra da Esso - então senhora absoluta do mercado latino-americano.
Neste mesmo fim de semana, o historiador Eric Hobsbaum, em entrevista à Folha de S.Paulo, analisou a crise histórica do início deste século, com a globalização e a reação dos oprimidos. Previu o fim do domínio americano e um sistema mundial de potências médias, nenhuma hegemônica, porque `nunca houve na História um império único`. Participar desse novo grupo de nações será o futuro do Brasil, se formos capazes de nos emancipar da mãe ibérica e do padrastro anglo-saxão e assumir a responsabilidade da vida soberana.
Mauro Santayana (jornalista) Extraído do `Jornal do Brasil`, de 01.10.07
Os brasileiros são modestos em sua auto-avaliação. Grande parte de nossa classe média e de nossos intelectuais se maravilha com a inteligência e o êxito alheios, e qualifica o nosso povo como preguiçoso e caipira. Apesar das dimensões do país, e dos grandes feitos históricos de nossa formação, muitos de nós resignam-se a ver o Brasil como mero caudatário do primeiro mundo.
E quando se atrevem a romper essa avaliação, atribuem as razões do orgulho nacional à natureza, como no livro do Conde Afonso Celso. Esquecem as virtudes do povo.
Há uma tese - inspirada nos arquétipos gregos e outros mitos - que situa a passagem da adolescência à maturidade, ou seja, da submissão à liberdade, na morte dos pais. Os filhos só assumem identidade real quando suplantam - ou `matam`, na repetição simbólica da mitologia - o pai, a mãe, ou ambos.
O Brasil ainda não deixou a adolescência, ou seja, ainda não ficou livre da submissão ontológica ao colonialismo português, nem ao padrasto anglo-saxão, que interveio em nossa construção histórica , a partir do Tratado de Methuen, e continua, em sua versão ianque, a nos impedir o desenvolvimento. A cultura, quando não procedia de Lisboa, vinha da Inglaterra, dos Estados Unidos e, quase como contrabando, da França. Não foram poucos os brasileiros que tentaram pensar originalmente em nosso país, e se viram sufocados pela alienação dos poderes de fato. A literatura, quando não bebia em Eça e em Castelo Branco, sugava-se no estilo de Swift e Sterne, como no caso de Machado de Assis. Só depois da Semana da Arte Moderna é que começamos a enveredar por caminhos` próprios, com o ciclo do Nordeste e a obra excepcional de Guimarães Rosa.
Vargas foi o primeiro homem de Estado a ver o Brasil em suas dimensões reais dentro do Cenário do mundo e em suas perspectivas históricas - como resumiu, neste fim de semana, em conversa com Wilson Figueiredo e com o colunista, o embaixador, jornalista e homem público José Aparecido de Oliveira. Aparecido, ao fazer essa constatação, criticou a parcela udenista de sua geração, que fustigou Getúlio até o sacrifício de 1954. No mesmo caminho de Vargas, Juscelino ignorou o complexo de inferioridade das das classes dirigentes do País e forçou o grande salto dos anos 50. A maior herança econômica de Vargas e Juscelino, a conquista nacional da produção de energia, defendida por Jango até ser deposto, revela-se agora na pujança da Petrobrás - mesmo depois de amputada pelo neoliberalismo dos tucanos. Quando a nossa geração participou da luta pelo petróleo, seria impensável que, um dia, a empresa brasileira nascida daquela campanha, viesse a cogitar a compra da Esso - então senhora absoluta do mercado latino-americano.
Neste mesmo fim de semana, o historiador Eric Hobsbaum, em entrevista à Folha de S.Paulo, analisou a crise histórica do início deste século, com a globalização e a reação dos oprimidos. Previu o fim do domínio americano e um sistema mundial de potências médias, nenhuma hegemônica, porque `nunca houve na História um império único`. Participar desse novo grupo de nações será o futuro do Brasil, se formos capazes de nos emancipar da mãe ibérica e do padrastro anglo-saxão e assumir a responsabilidade da vida soberana.
Mauro Santayana (jornalista) Extraído do `Jornal do Brasil`, de 01.10.07
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