04 julho 2006

Mais sobre o espelho do sociedade


O TCU (Tribunal de Contas da União) divulgou ontem a relação de 2.900 nomes de pessoas impedidas de disputar as eleições porque tiveram contas julgadas irregulares, entre os quais cinco ex-governadores. Mais da metade da lista é composta por ex-prefeitos que cometeram irregularidades, como receber verba federal e não informar devidamente a sua aplicação. Há ainda o nome de nove juízes de direito.

Marco Aurélio, presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), criticou o "jeitinho brasileiro" de burlar a lei por quem deveria dar o exemplo.

"É um exemplo típico do faz-de-conta", declarou o ministro ao se referir à ampla defesa a que todos os acusados tiveram durante o processo administrativo mas que, mediante um simples recurso, terão todos os direitos restabelecidos.

"É um prêmio à má gestão, ao desvio de recurso e à licitação viciada."

Como exigir da sociedade um comportamento digno se as leis são feitas para serem burladas? Pergunto-me como juízes se sentem depois de meses, se não anos, processando dados e condenando parlamentares, governadores e mesmo juízes, quando sabem que suas decisões serão desqualificadas por simples recursos impetrados.

Não acredito que a solução seja: primeiro melhorar a sociedade para depois exigir das autoridades, ou vice-versa. A mudança tem que ocorrer ao mesmo tempo. Exigir dos outros mas começando por si mesmo.

Como estou na fase das historinhas, aqui vai mais uma.

Estou lançando um livro na Alemanha que deverá sair por esses dias. Conversando com um peruano, típico latino, este perguntou-me como eu controlaria as vendas, já que os livros serão impressos de acordo com a encomenda. Telefonei para um escritor alemão, iniciante como eu, e que já publicou dois livros na mesma editora. Perguntei-lhe sobre o controle das vendas. E ele, típico alemão, prontamente me respondeu: "Qual o interesse que a editora teria em enganar alguém?"

Mesmo vivendo aqui por tanto tempo, ainda dou esses 'foras'. São as reminiscências, os vícios que permaneceram no meu subconsciente. É partir do princípio que todos são corruptos, que todos usam a fórmula do Tostão, é o tirar vantagem nas costas dos outros.

Se vivo há tanto tempo fora da lógica perversa do "passar a perna", mas assim mesmo ainda me comporto dessa maneira, quem dirá vocês, aí, nesse Brasilzão.

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