Por Bernardo Joffily
O jornal Folha de S. Paulo deste domingo (9) revela números do instituto Datafolha que mostram uma visível desconcentração de renda no Brasil entre 2002 e 2006. A matéria tem um título ardiloso, “Lula promove 6 milhões de eleitores para a classe C”, e a pesquisa usa os duvidosos critérios quantitativos da sociologia americana. Mesmo assim a camada mais pobre dos brasileiros diminuiu de 46% para 38%, enquanto a média aumentou de 32% para 40%
Os dados fazem parte da mesma pesquisa (com dados coletados em 28 e 29 de junho) que mostra Lula com 46% das intenções de voto, reelegendo-se no primeiro turno (todos os demais candidatos somam 39%), com votos que se concentral no eleitorado mais pobre.
Não é por acaso que os dados sociais e eleitorais coincidem: basicamente, uns explicam os outros. “A melhora no consumo e nas expectativas dos eleitores mais pobres explica em grande medida o favoritismo do petista, que hoje venceria no primeiro turno”, admite a matéria da Folha.
Segundo o Datafolha, 37% dos pesquisados passaram a consumir mais alimentos; 31% reformaram a sua casa; e 49% acham que sua situação econômica vai melhorar. Em 2002 eram 38%.
Desde 1994, nunca foi tão baixo o percentual reclama do seu poder aquisitivo, diz o Dastafolha: “Hoje, 28% acham ‘muito pouco’ o que a família ganha. Eles somavam 45% antes da posse de Luiz Inácio Lula da Silva.”
O estudo classifica os cidadãos conforme o critério quantitativo, que se baseia nas feixas de renda e consumo, em “classe A/B”, “classe C” e “classe D”. A última, que forma a base da pirâmide, em 2006 deixou de ser a mais larga, possivelmente pela primeira vez.
O editor da matéria viu-se obrigado a fazer alguma ginástica para não deixar que a pesquisa sirva como uma quase propaganda eleitoral de Lula. Para isso, teve de recorrer a fontes e enfoques sem relação com a pesquisa do instituto – que, no entanto, pertence ao mesmo grupo empresarial do jornal.
Entre as contorções, recorre-se até aos estrudos de Márcio Pochmann (economista da Unicamp e ex-secretário municipal do Trabalho em São Paulo na gestão Marta Suplicy), sobre o aumento da renda financeira dos ricos. Pochmann tem sido um crítico consequente e implacável do modelo neoliberal, ontem e hoje. Mas, curiosamente, a reportagem da Folha não pediu que ele comentasse os dados do Datafolha.
Com visível má-vontade, no pé da segunda página dedicada ao assunto, o jornal admite que “um cenário econômico positivo” está entre as causas da melhora na renda do eleitor. Cita o aumento dos benefícios da Previdência e programas sociais como o Bolsa-Família, mas por fim reconhece: “Os reajustes do salário mínimo acima da inflação (32,2% desde 2003), mais empregos (3,9 milhões formais), mais oferta de crédito e a queda da inflação (de 9,3% em 2003 para 4,5% projetados este ano) também têm forte peso”. Recorre porém a “analistas ouvidos pela Folha” para prognosticar que os benefícios não continuarão em 2007.
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